O debate sobre a segurança energética do Sistema Interligado Nacional (SIN), que já vinha ocorrendo com especial interesse no setor industrial, se intensificou a partir do apagão que afetou 25 estados no mês passado. Apesar de fontes intermitentes na matriz elétrica, como eólica e solar, serem limpas e em crescimento no Brasil, elas deixam o sistema exposto a variações, pois dependem dos ventos e da luz solar. Por isso, ter uma base mais equilibrada e complementar a partir de usinas hidrelétricas – ambientalmente sustentáveis e econômicas –, torna-se essencial.
“O olhar para a fonte hídrica é importante porque traz segurança com a geração mais próxima do ponto de consumo. Além disso, reduz os custos de transmissão e na conta do consumidor”, afirma Edilson Deitos, coordenador do Grupo Temático de Energia e Telecomunicações do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS).
Atualmente, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, pouco mais de 55% das fontes que compõem a matriz elétrica brasileira ligada ao SIN são hídricas. Eólicas correspondem a 13,7% e solar, a 5,3%. As demais se dividem entre térmicas, geração distribuída e nuclear. No Rio Grande do Sul, o percentual de hídricas é um pouco superior, 57%. Deitos reforça que, embora a Região Sul do país tenha melhorado a sua condição de transmissão e distribuição nos últimos anos, o Rio Grande do Sul continua importando 30% da energia que consome. Como atualmente o sistema nacional está mais conectado e interligado, a possibilidade de um problema que ocorre em uma região afetar as demais é maior.
Uma das alternativas para amenizar o risco no Estado seria a construção no Rio Grande do Sul de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que somadas possuem uma capacidade de armazenamento de água para usos múltiplos e maior flexibilidade para produzir energia. Elas podem acumular água em determinados períodos de abundância para utilização em períodos de menor geração – como o noturno, por exemplo. Outra opção se daria com as hidrelétricas reversíveis.
POTENCIAL EÓLICO
Nesse caso, produzem energia quando há alta demanda, e em momentos de baixa, utilizam a fonte intermitente para armazenar energia nos reservatórios. Essa energia armazenada poderá ser utilizada em períodos de aumento de demanda. Tratam-se de opções que podem ser acionadas, trazendo mais segurança e previsibilidade quando as outras fontes não conseguirem dar todo o suporte necessário ao consumo.
Deitos ressalta também o potencial do Estado com projetos de energia eólica e a capacidade de escoamento nas redes de transmissão com os projetos já existentes. O potencial eólico no RS onshore (em terra) é 245 gigawatts (GW) com torres de 150 metros de altura, mas, atualmente, a potência instalada em operação no RS é de apenas 1836 megawatts (MW). Estão em tramitação à espera de aprovação, 65 projetos em 31 municípios, que somam 18,1 GW. Destes, em torno de 50% já possuem licença de instalação ou licença prévia.
As redes de transmissão que conectarão esses parques eólicos gaúchos ao SIN estão concluídas ou em fase final de conclusão. Deitos enfatiza a importância de estes projetos serem contemplados com financiamento. “Apenas queremos concorrer em condições de igualdade, dispondo dos recursos financeiros nas mesmas condições que o Nordeste”, afirma o coordenador do GT de Energia.