As cooperativas agropecuárias terão recursos ilimitados para reestruturar as dívidas dos produtores rurais associados endividados em decorrência de perdas causadas pelas estiagens no Rio Grande do Sul. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, formalizou o anúncio durante a inauguração oficial da Expointer, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Se agradou às cooperativas, Fávaro decepcionou a cadeira produtiva de leite, que queria ouvir algum anúncio ou sinalização mais consistente para atacar a crise no setor, esmagado por importações do Uruguai e da Argentina.
Para as cooperativas, a liberação de crédito vai se dar via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Tiramos todos os limites. No início, as cooperativas falaram em R$ 3,5 bilhões, mas achamos que pode ser maior. O limite será a capacidade da cooperativa buscar. As cooperativas vão sanear as dívidas dos produtores, alongar em cinco anos, com juros reduzidos, mas ele tem que aderir a um programa de calcário, fertilização para ter um perfil de solo em ótimas condições para produzir. É estimulá-lo a produzir mais”, disse Fávaro. “Pretendemos em 30 dias colocar à disposição dos agentes”, completou o diretor financeiro do BNDES, Alexandre Correa Abreu.
Ao discursar na tribuna de honra após o desfile dos grandes campeões das raças, Fávaro disse que o governo federal já tomou medidas, que classificou de paliativas, para ajudar o setor leiteiro. “Sabemos que não dá muito resultado, mas é uma boa sinalização”, afirmou, em referência ao aumento de imposto de importação para alguns produtos adquiridos fora do Mercosul. “As medidas emergenciais já começaram a ser tomadas, inclusive com a compra de produtos brasileiros”, disse. A aquisição vai ser feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que disponibilizou R$ 100 milhões para compras públicas, com determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que seja por preço de mercado, e não mínimo.
Também há a possibilidade de o governo trabalhar, a partir de sugestão de entidades representativas, em um programa de desoneração da cadeia produtiva. “Isso para quem produz aqui, não para quem importa. Isso é possível, vamos levar ao presidente Lula, ao ministro Fernando Hadad (Economia), e aumentar as compras para merenda escolar e compras sociais, e isso será um programa contínuo, de mudança do hábito alimentar do brasileiro para que consuma mais leite e derivados”, disse Fávaro ao Correio do Povo, na tribuna de honra, após a solenidade.
Fávaro chegou a ser interpelado pelo produtor de leite Dirceu Zanatta em seguida, mas acabou sendo retirado por assessores. “Vim lá de Candiota para falar com eles. Conversei com o ministro Paulo Pimenta, com o Edegar Pretto (presidente da Conab), mas eles disseram que era com o Carlos Fávaro”, contou. “Fiquei mesmo decepcionado, esperava que ele me atendesse”, disse Zanatta, produtor há 24 anos, com 33 vacas em lactação em uma propriedade familiar. “A gente sabe que sempre teve uma gangorra na bacia leiteira, no preço. Mas essa gangorra neste ano veio três meses antes e está insustentável produzir. O custo de produção está mais de R$ 2 e estamos recebendo de R$ 1,90 a R$ 1,95 por litro”, relatou Zanatta.
O secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios (Sindilat-RS), Darlan Palharini, também falou em decepção ao comentar a falta de anúncios para o setor. “Totalmente decepcionante. Esperávamos no mínimo que o ministro estivesse bem informado da crise, que está vindo de fora para dentro, e vemos uma total complacência do governo federal, diferentemente do governo estadual, que dialoga com o setor e suspendeu a aplicação do Fator de Ajuste de Fruição (FAF)”, detalhou Palharini.
O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, também se mostrou desapontado. “O ministro do Uruguai (da Agricultura, Fernando Mattos) veio à Expointer e foi nos visitar, mas o nosso ministro (Fávaro) não”.