Lei que criou Dia do Patriota deve ser revogada até quarta pela Câmara de Porto Alegre

Caso ganhou repercussão nacional e, nesse fim de semana, PGR recorreu ao Supremo para invalidar texto

Foto: Divulgação/ CMPA

Após reunião com representantes de todas as bancadas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, no início da tarde desta segunda-feira, a direção da Casa anunciou um acordo para que seja revogada, até quarta-feira, a lei que, por sugestão do vereador cassado Alexandre Bobadra (PL), instituiu o 8 de janeiro como o Dia Municipal do Patriota. De acordo com o presidente da Câmara, vereador Hamilton Sossmeier (PTB), houve consenso entre os vereadores após o tema vir a público e ganhar repercussão nacional.

“Nós pegamos o projeto que a vereadora Karen [Santos, do PSol] trouxe, houve um acordo da grande maioria dos líderes de pegarmos esse mesmo projeto, tirar dois parágrafos e transformar esse projeto no projeto da casa de revogação. Queremos ver se hoje ou no máximo até quarta-feira termos esse projeto revogado”, explicou.

O projeto da vereadora Karen Santos (PSol) deve passar pelas comissões internas, seguindo o ritual da Câmara, mas de forma agilizada para que a revogação aconteça em, no máximo, dois dias, conforme referiu o presidente. A vereadora relata que o impasse se deu em relação à forma de revogação: se por meio do projeto já apresentado por ela ou de uma proposta da Mesa Diretora.

“Como nós fizemos todo esse caminho de esperar a cassação do Bobadra, colocar isso para as grandes redes, para disputar a opinião pública, e daí então apresentar um projeto de revogação, não iríamos abrir mão do nosso projeto. A gente se propôs a modificar a justificativa [a pedido dos demais vereadores], mas o conteúdo, o mérito dele vai ser votado. E isso para nós é uma grande vitória, porque tirar o protagonismo de uma mulher negra, vereadora, que articulou isso localmente e nacionalmente, para que desse visibilidade a esse constrangimento… abrir mão disso para mim também seria uma derrota… Sairia dessa reunião me sentindo muito mal”, reforçou Karen.

O projeto, proposto em 15 de março pelo então vereador Bobadra, virou lei depois de ser promulgado pelo presidente da Câmara em 10 de julho. Bodadra teve o mandato de vereador cassado, na semana retrasada, após ser condenado em processo por abuso de poder econômico pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS).

Com a repercussão nacional do caso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) requereu, nesse fim de semana, que o Supremo Tribunal Federal (STF) declare a Lei inconstitucional.

O projeto não chegou a ser votado em plenário, na Câmara, mas tramitou em três comissões e depois seguiu para sanção do prefeito. Como Sebastião Melo (MDB) não se manifestou no prazo previsto, nem para vetar ou sancionar, o texto voltou à Câmara, que automaticamente o transformou em lei.

Em 8 de janeiro deste ano, milhares de pessoas contrárias ao resultado das eleições presidenciais invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes, em Brasília. Mais de 1,3 mil pessoas respondem a processos no Supremo e, dessas, cerca de 120 seguem presas em Brasília.