O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o deputado Ricardo Salles (PL-SP) protagonizaram embates na sessão da CPI do MST desta quinta-feira. O titular da pasta, que compareceu à audiência na condição de convidado, resgatou, por mais de uma vez, a declaração polêmica de Salles sobre “passar a boiada” durante reunião ministerial no governo Bolsonaro em meio à pandemia. “Não tenho vergonha disso”, disse o deputado, relator da comissão.
Os ânimos se exaltaram, no entanto, depois que Fávaro contou ter “amigos” no MST, e Salles sugeriu que o ministro, durante a sessão, vinha adotando postura condescendente sobre o movimento, principal alvo da investigação. “O ministro da Agricultura do Brasil entende que é legítimo invadir terra devoluta”, disse Salles.
Fávaro, então, tentou se explicar: “a reivindicação (de terra) é legítima, o direito à propriedade é legítimo. Quem invadir, responde por isso (…) Não estou dizendo que ele (o manifestante) não tem a oportunidade de invadir”, afirmou o ministro.
“A maneira que o senhor responde deixa espaço, sim, que o senhor não condena tanto invasão de terra devoluta”, completou Salles, que cobrou um posicionamento claro de Fávaro. “Qualquer manifestação que invada espaços públicos e privados é crime?”, questionou.
“É crime”, respondeu Fávaro. “Estou dizendo que qualquer manifestação é legítima. Você pode ir na frente de um órgão público, pode ir na terra devoluta e reivindicar”, disse.
Pouco tempo depois, após insistência de Salles, Fávaro condenou a invasão em terras devolutas no país. “Está consignado que o ministro do PT não concorda que qualquer movimento possa invadir terra devoluta”, falou o relator, em mais uma tentativa de constranger o ministro com o governo.
Durante a sessão, Fávaro adotou um discurso conciliatório e afirmou ter amigos no MST. “Conheço muita gente boa que sonha em ter um pedaço de terra. É legítima a luta pela terra. Tenho muitos amigos que são membros do MST e tenho respeito por eles”, disse. Ele disse que a ida à CPI do líder do grupo, João Pedro Stédile, mostra que a gestão de Lula é “democrática” e “aberta ao diálogo”.
A audiência começou com o ministro da Agricultura queixando-se da pressão da oposição para o comparecimento à CPI. “Tornou-se uma convocação. O fato de você ser convidado pressupõe que você pode vir em outra data”, disse. Fávaro disse que tinha uma agenda ao longo do dia e precisou cancelar uma viagem para estar na comissão. Em comunicado enviado por e-mail à CPI, Fávaro apenas alegou “extensa agenda ministerial” e não propôs um outro dia para o encontro aos integrantes.
O entrevero entre os dois continuou. Salles perguntou a Fávaro sobre a posição dele sobre o plantio de transgênicos no Mato Grosso. “Se atente ao tema da CPI. Sou um parlamentar, respeito o Congresso Nacional. Eu não vou responder um assunto que não seja do MST”, disse. “Estou assistindo a um ministro que não quer se posicionar a um tema sobre o seu Estado”, devolveu Salles.
Salles também quis colocá-lo em conflito com a Associação de Produtores de Soja (Aprosoja). “Ela se politizou e fico muito triste com os caminhos que o Aprosoja tomou”, respondeu Fávaro, que presidiu a associação no Mato Grosso. A entidade virou alvo de ataques de Stédile em depoimento nessa terça-feira. Ele disse que a Aprosoja representa um “agronegócio burro”, que não votou em Lula e que só pensa em ganhar dinheiro.
Fávaro voltou a usar a expressão “passar a boiada”. “O senhor usou a expressão duas vezes. Não tenho a vergonha de ter dito isso. Acho que falar em passar a boiada é muito positivo. O que o senhor me espanta é usar campanha para o Senado usando imagem do Bolsonaro e depois usando o PT”, rebateu Salles.
*Com informações da Agência Estado (AE)