Defesa de Bolsonaro vai mover queixa-crime contra hacker por calúnia e difamação

Na CPMI, Walter Delgatti Neto afirmou que o ex-presidente articulou plano para questionar segurança da urna eletrônica

Foto: Tânia Rêgo/ABr

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta quinta-feira, que vai entrar com uma queixa-crime contra o hacker Walter Delgatti Neto alegando calúnia e difamação durante o depoimento dele à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Delgatti acusou Bolsonaro de ter oferecido a ele um indulto em caso de assumir um suposto grampo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O hacker também disse que o ex-presidente ordenou um plano para questionar a segurança das urnas eletrônicas em 2022.

Delgatti Neto, que vai depor à Polícia Federal, mais uma vez, nesta sexta, disse que concordou em assumir o grampo por se tratar de uma “proposta do presidente da República” com o intuito de pôr em xeque a credibilidade de Moraes com o objetivo de anular as eleições. O ex-presidente, segundo o hacker, ainda disse a ele para ficar “tranquilo”. “Caso um juiz mande te prender, eu mando prender o juiz”, afirmou Bolsonaro, conforme as palavras de Delgatti.

Ainda de acordo com o depoimento, o ex-presidente da República pediu ao hacker para fraudar uma urna com o objetivo de pôr em dúvida o processo eleitoral perante a população. “A ideia era pegar uma urna emprestada da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], acredito. E pôr um aplicativo meu para mostrar à população que é possível apertar um voto e sair outro”, disse o depoente.

Essa espécie de simulação tinha como objetivo levantar dúvida na população, já que, segundo Delgatti, invadir o código-fonte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é impossível por fora, uma vez que o sistema é offline, ou seja, sem conexão com a internet.

Delgatti ainda afirmou que, a pedido de Bolsonaro, orientou os militares das Forças Armadas na elaboração de um relatório sobre as urnas eletrônicas apresentado em 2022.

Sobre o encontro, no Palácio da Alvorada, a defesa de Jair Bolsonaro argumenta que a conversa tratou da “suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral”. “O então Presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado. Após tal evento, o ex-Presidente nunca mais esteve na presença de tal depoente ou com ele manteve qualquer tipo de contato direto ou indireto”, dizem os advogados.

Nas redes sociais, um deles – Fabio Wajngarten, ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro – negou a existência do grampo ou “qualquer atividade ilegal”. “Mente e mente”, completou, sobre o depoimento do hacker, nesta quinta.