O apagão que afetou 25 estados do país e o Distrito Federal nessa terça-feira teve início em uma linha da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), ligada à Eletrobras, em Quixadá (CE), conforme afirmou à imprensa, nesta quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. De acordo com o titular da pasta, a própria companhia admitiu que houve falha sistêmica.
Silveira disse que, isoladamente, o ocorrido na linha cearense não tinha peso suficiente para causar a suspensão generalizada de energia. As autoridades técnicas responsáveis seguem apurando outros eventos após o ponto inicial. Segundo o ministro, houve, “com certeza”, mais de um evento.
A Eletrobras, privatizada no ano passado, responde pela operação de 101 usinas de geração de energia de diversas fontes, sendo considerada a maior empresa de energia elétrica da América Latina. Com capacidade instalada de 42,6 mil MW, a empresa conta com 73,8 mil quilômetros em linhas de transmissão em todo o país. Emprega, diretamente, cerca de 10 mil pessoas. Em 2022, teve lucro líquido de R$ 3,6 bilhões. Depois da venda à iniciativa privada, o poder público passou a ter direito a menos de 10% dos votos na assembleia da companhia, apesar de deter 32% das ações.
Ainda de acordo com Silveira, o incidente no Ceará tratou-se de um evento considerado de pequena magnitude, a princípio. Esse evento, possivelmente ocorrido por erro de programação — não se protegeu a linha com a precaução devida — ocasionou uma série de outras falhas, que serão apuradas pelo ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico]. A Eletrobras admitiu tecnicamente e documentalmente o evento inicial, completou Silveira.
O ministro chamou o apagão de “inusitado” e afirmou que a as falhas que causaram o episódio já foram corrigidas pela Chesf e pela Eletrobras. A investigação busca saber, agora, se houve falha humana ou erro de sistema.
Mais cedo, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, determinou a abertura de um inquérito pela Polícia Federal. Silveira disse ter pedido “vigor e celeridade” para a conclusão desse trabalho.
A participação da Polícia Federal no caso, para o ministro de Minas e Energia, se justifica porque “o ONS não apontou falha técnica que pudesse causar evento com a dimensão que teve. Não queremos de forma nenhuma cometer ato de leviandade. Temos de ter apontamentos técnicos para consubstanciar o inquérito e apurar culpa ou dolo”, detalhou.
Investigação interna
O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, informou que um relatório de avaliação está em andamento. O trabalho final deve ser entregue em até 45 dias, mas uma versão preliminar deve ser apresentada ainda nesta quarta.
Ciocchi afimou, ainda, que não houve sobrecarga na linha de transmissão que falhou. “As linhas são projetadas e construídas para aguentar sobrecargas (…) Essa linha, porém, abriu sem sobrecarga. A energia que passava por ali não passou, como se estivesse desligada”, explicou.
A linha abriu indevidamente, e isso ocasionou uma onda muito grande de eventos, que foram se propagando. “Em 600 milissegundos, houve desconexão da fronteira elétrica do Nordeste, Norte e Sudeste”, salientou Ciocchi.