Morte de Léa Garcia: Festival de Cinema de Gramado adia cerimônia do Oscarito

Atriz, de 90 anos, faleceu no dia em que previa receber homenagem pela carreira

Foto: Cleiton Thiele / Agência PressPhoto / Divulgação

A terça-feira começou triste no Festival de Cinema de Gramado. A atriz Léa Garcia, de 90 anos, morreu na madrugada deste dia 15, no hotel onde havia se hospedado em Gramado. Ela previa receber o troféu Oscarito na noite de hoje, ao lado de Laura Cardoso. De acordo com o Hospital Arcanjo São Miguel, Léa sofreu um infarto agudo do miocárdio.

A organização do Festival anunciou alterações na programação em respeito à artista. A homenagem às duas atrizes acabou cancelada. A cerimônia de entrega do Oscarito a Laura Cardoso deve ganhar nova data no evento.

Seguem confirmadas as exibições dos filmes “Ela mora logo ali” de Fabiano Barros e Rafael Rogante, “O barulho da noite”, de Eva Pereira, “Remendo”, de Roger Ghil, e “Da porta pra fora”, de Thiago Foresti.

O ator Matheus Nachtergale, que protagoniza o longa de ficção exibido ontem, “Mais Pesado que o Céu”, começou a entrevista coletiva desta manhã para falar do filme, fazendo uma homenagem a Léa Garcia.

O ator começou dizendo que Léa Garcia “teve uma carreira linda”. Ele lembrou que trabalhou com ela no filme “30”, em que ele interpretou o carnavalesco Joãosinho Trinta. “A Léa era a madrinha dos sonhos do personagem”, explicou o ator. “Apesar da morte ser sempre trágica, nesse caso, era uma atriz linda que morreu no dia em que ia ser homenageada por um dos maiores festivais de cinema do Brasil. Espero que ela tenha partido com a sensação bonita de ‘hoje eu vou ser amada’ e está sendo”, disse Matheus, sendo aplaudido efusivamente na sala de debates do Festival.

O clima de pesar era geral, pela manhã, nos espaços do festival, seja de atores, diretores, jornalistas e organizadores.

A atriz e diretora paraibana Danny Barbosa destacou no debate a importância de Léa Garcia para muitas atrizes que vieram depois dela. “Como mulher negra e trans, vejo que a importância de Léa Garcia foi imensa na representatividade negra”, disse no debate.

Léa Garcia desembarcou em Gramado no último sábado, dia 12, acompanhada do filho, Marcelo Garcia. Desde então, a atriz circulou diariamente pelo evento, onde acompanhou diversas sessões no Palácio dos Festivais. Em uma das passagens pelo tapete vermelho, a atriz afirmou ao portal Acontece Gramado ter “um enorme prazer” em estar mais uma vez no município. “Esse calor, essa receptividade com a qual a cidade nos recebe. Aqui tem um leve sabor de chocolate no ar. Obrigado a todos que fazem o festival, que participam e que concorrem. Aqui me sinto sempre prestigiada”, completou.

Carreira extensa deixa legado importante 

Léa Garcia possuía uma história antiga com Gramado, conquistando quatro Kikitos com Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto. Aos 90 anos, a veterana tinha de um currículo com mais de cem produções, incluindo cinema, teatro e televisão. Com uma célebre trajetória nas artes, chegou a ser indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes, em 1957, pela atuação em Orfeu Negro que, em 1960, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro representando a França.

Atuando em produções para televisão, cinema e teatro, Léa consolidou uma carreira de papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura, Xica da Silva e O Clone. Tornou-se peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados a atrizes negras, e se consagrou referência para jovens atores e admirada pela qualidade das atuações.

Nascida na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, em 1933, a atriz desenvolveu consciência político-racial que perpassa a atuação artística com uma postura questionadora sobre o lugar do negro na sociedade e na arte.

Dona Léa seguia ativa. Em 2022, atuou nos longas Barba, Cabelo e Bigode, Pacificado e O Pai da Rita. Ontem, havia confirmado negociações com a TV Globo para atuar no remake da novela Renascer.