Lira sobre ruído com Haddad: “Manifestações enviesadas” não contribuem para diálogo

Líderes partidários passaram a projetar adiamento da votação do arcabouço fiscal para o fim do mês

Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta segunda-feira que “manifestações enviesadas e descontextualizadas” não contribuem para o “processo de diálogo” e a “construção de pontes”. A declaração ocorreu após uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o “poder” da Câmara, o que causou incômodo na cúpula da Casa e gerou o cancelamento de uma reunião sobre assunto, prevista inicialmente para esta noite.

No Twitter, Lira também disse que a “formação de maioria política” é uma missão do governo, e não do presidente da Câmara, mas que, mesmo assim, vem se empenhando nesse sentido. O presidente da Casa ainda afirmou ser equivocada a avaliação de que a formação de consensos no Congresso revela uma concentração de poder “de quem quer que seja”.

“A formação de maioria política é feita com credibilidade e diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa”, escreveu Lira. “Essa missão é do Governo, e não do Presidente da Câmara, que ainda assim tem se empenhado para que ela aconteça. Manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo e construção de pontes tão necessários para que o país avance!”, emendou.

Ao citar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que liberou espaço no Orçamento para o governo Lula antes mesmo da posse, a reforma tributária e o arcabouço fiscal, o presidente da Câmara disse que a Casa está comprometida com o progresso e o desenvolvimento do País, “independente do governo de ocasião”. “Todos os projetos de interesse do País são discutidos e votados com toda seriedade e celeridade”, ressaltou Lira.

Após o ruído sobre declarações de Haddad, líderes partidários ouvidos pela Agência Estado avaliaram que a votação das mudanças do Senado no novo arcabouço fiscal devem ficar para o fim do mês. O cronograma atrapalha os planos do governo, que quer usar a nova legislação para o controle das contas públicas como base para a elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024, que precisa ser enviado ao Congresso até 31 de agosto.

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, exibida hoje, Haddad disse que a Câmara está com “um poder muito grande” e não pode usá-lo para “humilhar” o Senado e o Executivo. As declarações causaram incômodo na cúpula da Casa, que estranhou a postura do petista, considerado o “principal articulador político” do governo Lula.

O episódio gerou o cancelamento de uma reunião que Lira havia marcado para hoje com as lideranças partidárias, o relator do arcabouço, Claudio Cajado (PP-BA), técnicos da equipe econômica e o próprio ministro da Fazenda. Haddad negou que tenha agido para criticar a Câmara. O ministro disse que ligou para Lira para esclarecer a situação e recebeu do deputado uma sugestão de declaração pública para evitar ruído.