Com auditório cheio na Associação Rural de Bagé (RS), o segundo Dia da Lã, promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), realizado nesta sexta-feira (4), debateu os gargalos relacionados à produção e mercado, além de discutir as alternativas para o produto. Uma série de palestras buscou trazer aos produtores participantes do evento quais são as tendências e as dificuldades, assim como as soluções para aumentar a competitividade do produto.
Em sua fala na abertura, o presidente da entidade, Edemundo Gressler, disse que vários acontecimentos ocorreram desde a primeira edição do evento e que culminaram nesta segunda etapa. “Nestes primeiros sete meses de 2023 fizemos acordar alguns atores como indústrias, produtores, universidades e pessoas para mudar essa situação da lã, buscando dentro do nosso sistema novas alternativas. Em função disso, dentro dessas novas alternativas, é que abrimos este evento”, salientou.
Na primeira palestra do dia, Alfredo Fros, presidente do Secretariado Uruguaio da Lã (SUL), fez um panorama geral do mercado mundial da lã e relatou a recente viagem oficial do governo uruguaio à China, na qual fez parte da comitiva. Explicou que todo o produto derivado de ovinos no Uruguai é de exportação. “No Uruguai a lã é 100% exportação e o consumo de carne é de dois quilos per capita. Se tirarmos o consumo nas fazendas ele será de 200 gramas”, destacou. Sobre a missão ao país asiático, que era grande comprador do produto antes da pandemia da Covid-19, disse que houve uma mudança no país também de busca por vestimentas mais leves e por tecnologias, o que vem sendo tendência no mundo. “Ficamos com um estoque de lã de 40 milhões de quilos, produção de cerca de 23 milhões. Temos duas safras estocadas e teremos uma nova tosquia pela frente. Temos produtores que já estão com cinco safras estocadas”, observou, acrescentando que as mudanças de costumes deverão trazer usos alternativos para o produto.
Na sequência, o coordenador do Programa de Certificação da Lã Gaúcha da Arco, Sérgio Muñoz, falou sobre os números e resultados da proposta, que já existe há dois anos. Explicou a metodologia, ressaltando que a comparsa estando apta, pode incluir o selo de certificação. “Uma vez cumprido o manual, recebe o selo”, frisou. Muñoz revelou que no primeiro ano foram certificados 18 mil quilos de lã. “Sabíamos das dificuldades, mas precisávamos dar início ao programa”, explanou. Em 2022 cresceu 96 mil quilos e espera chegar em 300 mil quilos neste ano “Temos muito trabalho pela frente”, ressaltou. “É importante que todos entendam o que é comprar uma lã certificada. Com certeza o produto final sairá com mais qualidade também”, complementou.
Logo após foi a vez dos representantes de empresas uruguaias apresentarem como vêem a lã brasileira que chega ao país, quais características e os aspectos a melhorar. Jose Luis Trifoglio e Djalma Puppo, da Estância Puppo, falaram sobre o ponto de vista do comprador. “As lãs são similares às uruguaias, com grande qualidade, em especial este produto gerado pela lã certificada gaúcha”, afirmou Trifoglio. Entre os aspectos a melhorar para colaborar com a comercialização, apontaram o romaneio da tosquia, que deve chegar à barraca junto com o lote de lã. Além disso, ao calcular o percentual de velo sobre o total do lote, não se deve considerar a lã não certificada. “No romaneio, para nós, é importante saber porque a comparsa considerou a categoria”, informou. Com simples manejos em tempos difíceis de mercado o produtor pode ter uma melhor remuneração pela sua lã”, completou Puppo, se referindo ao programa.
Finalizando a manhã, os professores Ana Gabriela Saccol, do Laboratório da Lã da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Stefani Macari, do Laboratório da Lã da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apresentaram o que vem sendo feito na academia. Ana Gabriela explicou que fizeram um evento para discutir alternativas para a utilização da lã que não é bem aceita pelo mercado. “Fomos procurados pelos produtores para resolver um problema. E disso realizamos dois experimentos”, contou. Foram desenvolvidos trabalhos para o município, inclusive com a participação de tecelãs em um laboratório de artesanato. “Fizemos um artesanato identitário para o município. Queremos ter a inovação para ter valor agregado ao produto, mas não só agregado, e sim compartilhado”, destacou, acrescentando que também existem três projetos, um que é o Isoterme, utilizando a lã na construção civil, além de propostas de uso como adubos tanto na agricultura quanto na jardinagem e como blindagem em veículos. “O que estamos trazendo é uma conexão de pessoas”, ressaltou. Já Macari relatou o trabalho feito na UFPel, começando pela construção do laboratório na faculdade. “Temos projeto de levar essa lã para escolas do ensino fundamental. É importante levar pesquisas para a comunidade”, colocou.
O período da tarde no segundo Dia da Lã foi dedicado a uma mesa redonda com a participação do setor industrial, onde foram debatidos os pontos destacados pela manhã além de assuntos relacionados ao mercado. O Dia da Lã, organizado pela Arco, teve o apoio da Associação Rural de Bagé, Associação Bageense dos Criadores de Ovinos (Abaco) e Comissão de Ovinos da Farsul, além do patrocínio de Supra, Senar RS e Sebrae Agronegócio.