Juíza que aceitou liminar suspendendo obras do Parque Harmonia “foi ludibriada”, alega GAM3 Parks

Em processo, concessionária administradora do espaço chamou de "manipulação" imagens feitas por drone mostrando suposta devastação

Foto: Guilherme Almeida/Correio do Povo

A GAM3 Parks, concessionária administradora do Parque Harmonia, em Porto Alegre, encaminhou um recurso direcionado à presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) contra a decisão da 3ª Câmara Cível da Corte, que manteve a liminar suspendendo as obras de revitalização do parque. A empresa, representada pelos advogados Flávio Luz, Carine Aneli Martins e Francisco Jansen Ferreira, sofreu duas derrotas na 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, em decisões das juízas Gabriela Dantas Bobsin e Letícia Michelon.

Na peça processual, à qual deve se somar a Associação dos Piquetes do Parque da Estância da Harmonia e do RS (Aspergs), a GAM3 Parks alega que Gabriela “foi ludibriada”, e que foram manipuladas as imagens feitas por drone mostrando suposta devastação no parque. “Trata-se de manipulação de imagem em ângulo/corte maliciosamente pensado para passar um cenário de terra arrasada e retirada de árvores de grande porte”, menciona o documento, relatando ainda que, em 2020, antes da concessão, os vegetais já haviam sido retirados do local.

A suspensão ameaça a realização do Acampamento Farroupilha, que ocorre em setembro, mas cujas obras de infraestrutura tinham previsão de começar na terça-feira passada. Sobre a realização do evento, a empresa alega, no agravo, ser “inviável” sem a montagem da infraestrutura “nos próximos dez dias”, como a finalização da rede elétrica subterrânea, das redes de esgoto e drenagem, e de acessos para ambulâncias e viaturas do Corpo de Bombeiros.

O agravo cita também o show do grupo musical Sorriso Maroto no local, no próximo domingo, com mais de nove mil ingressos já vendidos. A GAM3 alega que a manutenção da liminar vai implicar “em enormes prejuízos, não somente à concessionária, mas aos trabalhadores, comerciantes, produtores, artistas, frequentadores, consumidores e à imagem da cidade”, relata a empresa.

A Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Procuradoria-Geral do Município (PGM), entrou com recurso semelhante.

A ação começou a tramitar no fim de julho, apresentada pelo Movimento Salve o Harmonia, formado por mais de 30 entidades ligadas à área ambiental. Ela sustenta, entre outros aspectos, o corte já realizado de mais de cem árvores das 432 previstas inicialmente, prejudicando a fauna e flora do local, e a alteração do projeto original sem as devidas autorizações.

Procurada pelo Correio do Povo, a GAM3 Parks disse, por meio da assessoria, que espera que o julgamento do agravo ocorra no TJ “o mais rápido possível”.

Além do recurso da administradora do Harmonia, ainda não julgado, a Associação dos Acampados da Estância da Harmonia (Acamparh) também encaminhou um documento pedindo a liberação das obras para a realização do Acampamento, negado na tarde dessa quarta-feira pelo desembargador-relator Leonel Pires Ohlweiler, da 3ª Câmara do TJ.

Entre as justificativas do magistrado para o indeferimento, ele cita que a concessionária não confirmou se, “iniciadas as obras, foram devidamente respeitados os parâmetros ambientais estabelecidos”, ou, no caso, se cumpriu com o previsto nas documentações encaminhadas ao poder público antes do começo das obras, como o Termo de Compensação Vegetal (TCV) e o Laudo de Cobertura Vegetal.

O professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenador-geral do Instinto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack, um dos defensores do movimento, disse novamente que os ambientalistas não se opõem à realização do Acampamento Farroupilha, mas afirmou que a eventual aprovação parcial da continuidade das obras para o evento é “delicada”. “O conjunto de obras que estava em curso e causava grande impacto extrapolava isso”, salientou ele.