Em carta, entidades pedem a artistas que não participem de festival marcado para novembro no Parque Harmonia

Signatários dizem que as obras vêm prejudicando fauna e flora do local

Foto: Ricardo Giusti/CP

Com o objetivo de sensibilizar os artistas em relação as obras que ocorrem no Parque Harmonia, 30 entidades, parte delas ligada a questões socioambientais, enviaram uma carta para os músicos confirmados do Festival Turá, marcado para os dias 18 e 19 de novembro, no Parque Harmonia. Entre eles, Caetano Veloso, Emicida, Alceu Valença e Papas da Língua.

A carta, enviada no último domingo, pede aos artistas que não participem do festival. O grupo justifica fazendo um relato sobre os impactos das obras na fauna e na flora do local. O texto salienta a presença de 85 espécies de aves e que a área tinha 80% da área original com vegetação de campos e árvores, o que não vem sendo levado em consideração. A mensagem reforça a existência de um pedido de suspensão das obras para, de acordo com o documento, “frear a destruição deste importante parque da cidade”.

Paulo Brack, diretor do Instituto Ingá, um dos signatários da Carta, considera ideal discutir um outro local para realizar o Turá.

“A gente está solicitando que essas assessorias cheguem aos artistas para ver outro local. A gente não é contra o festival, é claro, é um festival super importante. Mas por outro lado, está se vivendo esse impasse, até na justiça, inclusive, com ações na justiça para que se suspendam as obras que estão sendo feitas de uma maneira muito rápida lá, com danos à vegetação e árvores sendo mutiladas. Então, estamos solicitando que os artistas também adiram a esse movimento e cobrem da empresa que esses cuidados não estão sendo tomados, quem sabe até fazer [o festival] em outra localização”, questiona Brack.

O ambientalista sugere como possibilidade de outros locais para a realização do Festival Turá o anfiteatro Pôr do Sol e o Olímpico, antigo estádio do Grêmio. “O Olímpico, do Grêmio, que está tão abandonado, por que não se faz um grande estádio para shows lá, que é um espaço todo abandonado? Por que ocupar as áreas verdes, onde você tem quero-queros, sabiás? Tem uma fauna já estabelecida há 40 anos ali, e você querer ocupar o espaço dos bichinhos”, compara Brack.

Além dos danos ambientais, os signatários da carta dizem que o governo do prefeito Sebastião Melo “se aproveitou da pandemia de Covid-19” para conceder o trecho 1 da Orla do Guaíba e o Parque Harmonia por 35 anos à empresa GAM3 Parks e que, de parque campeiro, a área está sendo transformada em um parque de diversões. O documento finaliza pedindo que o artista não participe: “Considere não participar do Festival Turá no Parque Harmonia! Ficaremos muito felizes com a sua presença em nossa cidade como um aliado na defesa pela integridade dos nossos parques, praças e espaços públicos”.

A concessionária GAM3 Parks, que está com as obras em andamento desde dezembro do ano passado, se manifestou em nota, dizendo que as intervenções ocorrem dentro da legalidade. O comunicado reitera o “como compromisso a preservação do meio ambiente e sustentabilidade” e assegura que a GAM3 vem “seguindo rigorosamente todas as leis e regulamentos ambientais estabelecidos pelas autoridades competentes”. “A decisão de realizar a revitalização do parque foi tomada após um criterioso estudo de impacto ambiental, no qual foram avaliados diversos aspectos para minimizar ao máximo os danos”, completa a nota.

Já a organização do festival enviou nota no fim da tarde: “Estamos atentos à discussão envolvendo as obras no Parque Harmonia. Já solicitamos esclarecimentos para a empresa que administra o local, para compreendermos, em detalhes, as iniciativas adotadas para garantir a sustentabilidade do parque”, sustenta. Realizado pela produtora Time For Fun em parceria com a Maia Entretenimento, o Turá chega a Porto Alegre, pela primeira vez, em 2023.