Luz retorna, quase duas semanas após ciclone, a moradores na praia do Cassino

Ministério Público Estadual em Rio Grande instaurou inquérito para apurar a conduta da concessionária

Foto: Magnus Crescencio/Especial/Rádio Guaíba

Tomar banho de bacia ou pagar R$ 30 para usar um chuveiro quente havia virado rotina entre moradores de cerca de cinco casas na praia do Cassino, em Rio Grande, no litoral Sul, desde a passagem do último ciclone extratropical, como mostrou nessa segunda-feira a reportagem da Rádio Guaíba. Por volta das 20h desta terça-feira, as famílias, enfim, tiveram a energia restabelecida.

Segundo o aposentado Vladimir Castro Costa, de 55 anos, que mora na rua Dezenove (Posto Dois e Quatro), por volta das 15h uma equipe da CEEE Equatorial esteve no local, pela primeira vez desde o ciclone do dia 12, e avaliou que o problema era em um transformador. A equipe alegou a necessidade de voltar para buscar um caminhão e realizar o reparo, mas não deu prazo de restabelecimento. Cinco horas depois, uma segunda equipe esteve no local e disse que o problema era em uma fiação, que precisou ser remendada.

“Hoje, mais cedo, veio uma equipe aqui que já podia ter resolvido. Eles vieram aqui, olharam, olharam e disseram que era um transformador e que não tinham como subir porque tinham só uma escada. Agora veio essa equipe da CEEE, foi lá no transformador, olhou, tá tudo normal, aí veio acompanhando as emendas dos fios porque o fio de longe em longe é emendado e havia soltado a emenda. Era só isso. Era só refazer a emenda. Se tivesse sido feito da primeira vez um bom serviço, não tinha se desmanchado. Inclusive, o meu vizinho que estava na mesma situação que eu disse que, em todos os pedidos e protocolos já feitos, tinha avisado que, seguidamente, essa emenda dá problema. Já foi refeita umas duas, três vezes… E disse para os caras darem uma olhada nessa emenda. Levou 13 dias para a equipe vir aqui. Quantas famílias atingidas por esse descaso? Uma firma que presta um serviço de primeira necessidade com pessoas tão incompetentes trabalhando. Era somente um fio, uma emenda no poste”, desabafou, em tom de indignação.

O administrador Magnus Crescencio, de 41 anos, confirma o relato do vizinho. “Quando eu falava com eles no atendimento, eu dizia que era aquela emenda. Porque aquela emenda já deu problema outras vezes. Ela já foi feita, refeita e refeita de novo. Três vezes eu confirmo que foi. Eles já iam direto naquela emenda ali, que era o problema. Só que o que me admira é o pessoal que foi à tarde, hoje, atender dizer que o problema não era ali, que o problema era no transformador. Foi isso aí que me deixou mais indignado agora. Provou a incompetência da mão de obra da Equatorial”, reforçou.

A reportagem questionou a CEEE Equatorial sobre a demora na normalização do serviço. Em nota, a concessionária reiterou que a passagem do ciclone extratropical tratou-se de um fenômeno raro que trouxe impactos e dificultou o restabelecimento rápido aos clientes. (confira a íntegra, abaixo).

O promotor de Justiça em Rio Grande Rogério Meirelles Caldas instaurou um inquérito contra a concessionária, que busca investigar a conduta da CEEE em virtude do número de consumidores que ficaram dias sem luz em decorrência do ciclone. Conforme o Ministério Público Estadual, a população interessada em colaborar pode encaminhar relatos de deficiência na prestação do serviço público de energia através do site do MP.

Nesta quarta-feira, uma reunião virtual ocorre entre a conselheira-presidente da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), Luciana Luso, e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval de Araujo Feitosa Neto, para tratar do fornecimento de energia elétrica em cidades gaúchas. Conforme a Agergs, a reunião vai definir medidas a serem tomadas para que as concessionárias prestem um atendimento mais ágil aos municípios quando ocorre a interrupção do serviço.

Confira, na íntegra, a nota da CEEE Equatorial:

“Porque, reiteramos, a passagem do Ciclone Extratropical foi um fenômeno raro. Outro como este ocorreu, na última vez, há exatos 100 anos, conforme destacado pelo site meteorológico Metsul. 

Além de trazer ventos de cerca de 140 km/h e chuvas de mais de 100 mm diários, outros impactos trouxeram bastante dificuldade para o restabelecimento rápido aos clientes:

No início do fenômeno, por exemplo, houve:
– problemas de acesso em decorrência dos grandes alagamentos;
– impossibilidade de agilidade devido ao trânsito;
– impedimento de acesso à rede elétrica, inicialmente, por questão de segurança, devido à própria ventania e chuva forte.

Em um segundo momento, destacam-se:
– árvores, telhados e outros objetos de grande porte sobre a rede elétrica;
– necessidade de isolamento de área afetada, incluindo retirada de pessoas e(ou) animais do local, trabalho que necessita da ajuda de órgãos do serviço público, como a Defesa Civil;
– retirada de objetos de grande porte que atingiram a rede, trabalho que obrigatoriamente tem de ser realizado com órgãos públicos responsáveis pela retirada de vegetais;
– postes caídos após a rede ser levada ao chão pelos objetos pesados.

E neste terceiro momento, há a reconstrução total da rede, que inclui:
– instalação de postes;
– instalação de equipamentos como transformadores e chaves;
– recolocação da fiação.
– dificuldade de restabelecimento nas áreas fora dos grandes centros, em zonas predominantemente rurais, com redes abrangentes e formadas por postes de madeira, que foram bastantes destruídas pelo ciclone, exigindo esforços extras para reconstrução total nos trechos afetados.”