Passados 13 dias desde a passagem do último ciclone extratropical, moradores de Rio Grande, no litoral Sul, ainda convivem com a falta de luz. Em tom de desabafo, o aposentado Vladimir Castro Costa, de 55 anos, conversou com a reportagem da Rádio Guaíba, nesta segunda-feira. Segundo o morador da rua Dezenove (Posto Dois e Quatro), no bairro Cassino, ele e a esposa passaram a aquecer água no fogão a gás e a tomar banho de bacia. Costa relata, porém, que há moradores pagando R$ 30 para tomar um banho quente.
“Estamos esquentando água e tomando banho de bacia. A minha filha está tomando banho na casa do namorado dela. Tem gente que está pagando R$ 30 o banho nos lugares que tem luz. O hotel aqui estava cobrando esse valor, mas como é que eu e a mulher vamos pagar R$ 60 por dia de banho?”, questiona.
Além de conviver com o problema de ter uma geladeira desligada, o aposentado disse que a segunda fonte de renda dele, a serralheria, está com os equipamentos parados por conta da falta de luz. Diversos protocolos foram abertos, mas até o momento a CEEE Equatorial não solucionou o problema.
“Eu ligo em média cinco vezes por dia. Do dia do ciclone até a terça-feira [passada] eles não estavam nem dando o número de protocolo pra gente. Quando o Ministério Público instaurou um inquérito aqui na cidade pra saber do procedimento deles, eles começaram a fornecer o número de protocolo pra gente, de terça-feira em diante. Então, eu já tenho mais de dez números de protocolo. Já mandei e-mail até pra ouvidoria [da CEEE]. Não se resolve. Inclusive, uns 20 minutos atrás eu liguei de novo e eles disseram que iam reforçar de novo o pedido. Semana passada eles estavam me dando até prazo: ‘até amanhã, às 13h30min; no outro dia, até as 15h30’, e agora já não dão mais prazo nenhum. Não dão mais prazo, não vieram aqui e não fizeram nada”, relatou.
O administrador Magnus Crescencio, de 41 anos, relata situação parecida. Pai de duas crianças de 6 e 14 anos, ele disse que precisa se deslocar de casa até a residência da sogra para cuidar da higiene pessoal dele e das crianças e, que também realizou vários chamados em busca de solução.
“Eu já abri inúmeros chamados, os vizinhos relataram também que já abriram inúmeros chamados, até e-mails enviaram para a ouvidoria da CEEE, e não tiveram retorno. Eu tenho que me deslocar do bairro Cassino até a cidade, na casa da minha sogra, pra tomar banho. Nós somos quatro lá em casa, eu, minha esposa e dois filhos. E isso gera transtornos pra gente, gera deslocamento, gera custo, as roupas todas sujas. Num dos chamados eu ainda falei para atendente que gera custo ter que me deslocar de casa, eu tenho um filho que necessita de uma atenção maior… Então, são situações assim que nos deixam de mãos atadas, porque a gente não sabe o que vai fazer, né? Não tem nem a quem recorrer”, revela.
O promotor de Justiça Rogério Meirelles Caldas instaurou um inquérito contra a concessionária, que busca investigar a conduta da CEEE em virtude do número de consumidores ainda sem luz em decorrência do ciclone. Conforme o Ministério Público Estadual, a população interessada em colaborar, pode encaminhar relatos de deficiência na prestação do serviço público de energia elétrica através do site www.mprs.mp.br/atendimento/denuncia/.
A reportagem entrou em contato com a CEEE, que respondeu que está trabalhando “na normalização da distribuição para os pontos sem abastecimento”.
Nesta quarta-feira, uma reunião virtual ocorre entre a conselheira-presidente da Agergs, Luciana Luso, e o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval de Araujo Feitosa Neto, para tratar da energia elétrica no Rio Grande do Sul. Conforme a Agergs, a reunião vai definir medidas a serem tomadas para que as concessionárias prestem um atendimento mais ágil aos municípios quando ocorre a interrupção do serviço.
A CEEE Equatorial recebeu da Agergs uma multa de R$ 29 milhões, em abril de 2022, por falhas no fornecimento de energia após temporais que atingiram a região Metropolitana em 6 de março do ano passado. A companhia apresentou recurso à Aneel contra a sanção.