Corpo de João Donato vai ser velado no Theatro Municipal do Rio

Cerimônia está marcada para esta terça-feira, das 11h às 15h

Foto: Thiago Piccoli/Wikimedia

O corpo do multi-instrumentista, cantor e compositor João Donato, que morreu na madrugada desta segunda-feira, no Rio de Janeiro, vai ser velado nesta terça-feira, das 11h às 15h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em cerimônia aberta ao público. Na sequência, o artista vai ser cremado no Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio, em ato restrito a amigos e familiares.

O músico morreu aos 88 anos, vítima de complicações pulmonares. Muitos artistas e políticos enalteceram a trajetória de João Donato, um dos grandes músicos brasileiros, que passou pela bossa-nova, conviveu com artistas do jazz norte-americano e deixa legado importante para a música brasileira.

O crítico de música brasileira Rubem Confete, comentarista da Rádio Nacional, lembrou que João Donato nasceu no Acre e chegou ao Rio de Janeiro aos 11 anos de idade junto com a família. O pai era um piloto da Força Aérea Brasileira (FAB) transferido para o Rio no fim dos anos 1940. Começou tocando acordeon dado pelo pai ainda no Norte do país. Passou pelo piano e muito cedo se notabilizou. A maneira de ele compor antes da bossa-nova chamou atenção de cantores e compositores da MPB.

João Donato teve encontros com músicos do Caribe, principalmente da Jamaica e de Cuba, e se notabilizou com acordes ao piano em jazz, chegando a participar de muitas apresentações dessa vertente nos Estados Unidos.

Confete contou ainda que, ao voltar para o Rio de Janeiro, João Donato se uniu a Caetano Veloso e Gilberto Gil.

“Em 1977, nós participamos de um trabalho com o João Donato. Letras minhas e músicas do João, mas o nosso produtor, por motivos particulares, abandonou o long-play, mas nós marcamos presença com uma música Xangô é D’bá”, disse Confete. “Com ele, não tinha tristeza. Para Donato, a vida era sempre uma festa”, enalteceu.

O cantor, compositor e instrumentista Carlinhos Brown também destacou as habilidades do amigo. “João Donato é um gênio e fez com Gil uma paz invasora que inspira vários corações. Fez o não saber das bananeiras e com esse ritmo e melodia plantou nos pensamentos do Brasil um respeito maior ainda, as rítmicas que as canções promovem. Além de ser um dos maiores de todos os tempos, sempre oportunizou os novos e buscou uma forma de estar caminhando e dando rumo a tudo que o Brasil produz em música. Ele é meu parceiro e tivemos oportunidades de termos músicas nossas interpretadas por Emílio Santiago, Carlos Santana, Bebel Gilberto, Timbalada, entre outros”, destacou Brown.

“Fica a falta e a saudade de um grande companheiro, mas fica principalmente um legado responsável que nos acordes do piano brasileiro ganhou mudanças com Johnny Alf, com Tom Jobim e com o imortal João Donato. Que seu espírito seja celebrado pelos céus, assim como é a sua música na Terra. João, um grande homem. Um pequeno adendo, sinto ele não ter escutado a música que fiz para ele e Tom em vida, mas vou fazer ecoar no universo, onde os espíritos escutam as verdades com mais clareza”, completou.

Já a cantora e compositora Marisa Monte escreveu: “Muito triste com a partida do meu amigo e parceiro João Donato. Um homem sensível e único, criador de um estilo próprio com um piano diferente de tudo que já vi. Doce, preciso e profundo. Fica o silêncio e a saudade”.

O jornalista, historiador, crítico, radialista e musicólogo brasileiro Ricardo Cravo Albin, considerado um dos maiores pesquisadores da música popular brasileira, disse que João Donato deixa a MPB desolada e órfã, na medida em que se consolidou um grande pioneiro da bossa-nova. “A bossa-nova internacionalizou a música popular do Brasil no mundo inteiro e fez com que o nosso ritmo pudesse ser muito aceito e reverenciado no mundo inteiro.”

João Donato é um dos pilares desse movimento. “Ele era um pianista muito sofisticado e um compositor igualmente na mesma linha. O Donato quando se exibia tinha muito sucesso”, ressaltou Albin.

Segundo o historiador, Donato deixa, sobretudo, uma mensagem de originalidade e de sofisticação. “Ele era contido, minimalista, era perfeccionista, isso tudo é uma grande originalidade”, descreveu.

O prefeito Eduardo Paes disse, pelas redes sociais, que Donato vai deixar saudades. Partiu João Donato, gigante da música brasileira. Nasceu em Rio Branco e veio ainda criança pro Rio de Janeiro, onde passou a vida. Eu sou de todos os rios, eu sou de igarapés, disse numa entrevista. Esse Rio vai sentir sua falta.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva postou no Twitter que o país perdeu hoje um dos maiores e mais criativos compositores. “João Donato, pianista, acordeonista, cantor e compositor, foi um dos gênios da música brasileira. Perdemos hoje um de nossos maiores e mais criativos compositores. Nascido no Acre, foi no Rio de Janeiro que construiu sua trajetória e marcou a história da música em nosso país, com composições que correram o mundo. João Donato via música em tudo. Inovou, passou pelo samba, bossa nova, jazz, forró e na mistura de ritmos construiu algo único. Manteve-se criando e inovando até o fim. Que encontre a paz que tanto cantou. Sua música permanecerá conosco. Meus sentimentos aos familiares, amigos, músicos que nele se inspiraram e fãs no mundo todo”.