Mesmo após ter sido indiciado pela Polícia Civil por assédio sexual contra ex-funcionárias, o ex-diretor executivo do Hospital de Montenegro (HM), Carlos Batista da Silveira, vai receber indenização referente aos 11 anos em que esteve à frente da casa de saúde. O pagamento do montante foi confirmado pela Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE), mantenedora da instituição, que ainda agradeceu o gestor ‘pelo empenho e dedicação’, em nota anunciando a rescisão do contrato, no último dia 3 de julho.
“Não foi [demissão] por justa causa, pois ele fez um bom trabalho e reergueu o hospital. Fizemos isso em consideração, ele merecia”, declarou a presidente da OASE, Eliane Leser Daudt, à Rádio Guaíba.
Contatados pela reportagem, funcionários do HM alegaram que o ex-diretor receberia mais de R$ 1 milhão pelo afastamento, o que foi negado pela presidente da mantenedora. “De jeito nenhum, isso é conversa. A gente não sabe o quanto ele vai receber, isso ainda está sendo calculado”, rebateu.
Ainda segundo ela, o hospital filantrópico e 100% SUS recorreu da decisão da Vara do Trabalho que, em maio, determinou o pagamento de R$ 50 mil ao fundo de amparo ao trabalhador. A condenação é fruto de uma ação do Ministério Público do Trabalho sobre os supostos assédios.
Ex-diretor é réu na Justiça Criminal
Além do âmbito trabalhista, Carlos Batista também responde pelas acusações de assédio na esfera criminal. O processo, que corre em segredo de justiça, teve início em dezembro, após a denúncia do Ministério Público ter sido aceita pelo Judiciário.
Conforme a delegada Cleusa Spinato, cinco mulheres acusam Batista mas, como um caso prescreveu, ele acabou sendo indiciado quatro vezes. O suspeito, ainda segundo a policial, se aproveitou do cargo que ocupava, entre 2014 e 2021, para assediar as funcionárias.
“É o clássico do assédio, com brincadeiras inoportunas e falas inadequadas e de cunho libidinoso. Uma série de condutas que deixa evidente que ele se aproveitava da condição de superior hierárquico para assediá-las. Elas só conseguiram denunciar por não estarem mais trabalhando lá pois, lamentavelmente, a mantenedora é omissa”, declarou a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher.

Uma ex-funcionária descreve que o gestor fazia comentários de duplo sentido e enviava mensagens fora do horário de trabalho, além de criar situações constrangedoras. “Ele não elogiava o trabalho, e sim o nosso corpo. Também criava situações para ficar sozinho com as pessoas e caminhava atrás para ficar nos olhando. Ele chegou a passar a mão nas pernas e em mãos de outras colegas”, relatou.
Uma reclamação, ainda de acordo com a mulher, chegou ao conhecimento de Felipe Leser, diretor administrativo financeiro e então presidente do comitê de ética do HM, mas não houve apuração do caso. À Rádio Guaíba, ele negou que teria sido omisso e defendeu a inocência do ex-diretor.
“Nunca vi nada e nada foi provado. Isso é um movimento de uma série de pessoas que querem tomar a gestão do hospital”, afirmou Leser, que é sobrinho da presidente da OASE e, ao lado do diretor técnico Jean Ernandorena, assumiu provisoriamente as funções de Batista.
Uma semana antes de deixar o cargo, Carlos Batista declarou que as denúncias tratam-se de ‘armação’. “No tempo certo, vou dizer o que tem que ser dito. Isso é uma armação e tudo o que eu falar será levado como se estivesse dando uma desculpa. Deixa as pessoas falarem, vocês falarem, que todo mundo fique à vontade para falar. Só não quero dar declarações”, sintetizou.
A reportagem tentou contatar novamente o ex-diretor após o anúncio da rescisão de contrato mas, até a manhã desta terça-feira, ele ainda não havia respondido.