No quarto dia do julgamento do caso Becker, os quatro réus pelo assassinato do médico, ocorrido em 2008, começaram a ser ouvidos no meio da tarde desta sexta. As últimas testemunhas de defesa prestaram depoimento também hoje. Após os depoimentos dos acusados, terão início os debates orais entre acusação e defesas, com possibilidade de réplica e tréplica. Não há prazo para que a sentença final seja conhecida.
No entendimento do Ministério Público Federal, o médico Bayard Ollé Fischer Santos, alvo de uma investigação ética do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) e prestes a perder o diploma, se uniu a Juraci da Silva, que devia favores a ele, para planejar o crime. Já o réu Michael Noroaldo Garcia Câmara, para a acusação, executou o assassinato, e Moisés Gugel, ex-assessor do andrologista, intermediou as conversas entre Bayard e Juraci. Morto a tiros na zona Norte de Porto Alegre, Marco Antônio Becker não participou diretamente, em nenhuma esfera, dos julgamentos envolvendo a cassação de Bayard, embora tenha recomendado a medida. À época do crime, ele era vice-presidente do Cremers e integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Primeiro depoente do dia, o cirurgião plástico Flávio Borges Fortes, quarta testemunha de defesa, teve a oitiva mantida sob sigilo. Na sequência, o então gerente administrativo do Cremers, Marcos Costa Silva, depôs citando denúncias de assédio sexual a que Becker respondia, assim como o medo da vítima de uma represália de Bayard. “Ele temia um atentado. Temia a segurança dele em função de alguma medida tomada por Bayard”, citou Costa Silva.
A ex-namorada de Moisés Gugel, Francine Kipper, testemunhou em seguida. Segundo a psicóloga, Juraci, enquanto paciente de Bayard, trocava mensagens com Gugel sobre dúvidas de saúde. “Toda hora eu, como namorada, sentia a atenção sendo disputada [com as constantes conversas de Jura e Gugel fora do horário comercial]. De novo esse paciente? Diz pra ele que, nesse horário, tu não pode e tu vai responder amanhã”, disse Kipper.
Quarto a ser ouvido nesta sexta, na maior parte do tempo em sigilo, Marco Antônio de Souza Bernardes, um dos envolvidos na morte do ex-vice prefeito de Porto Alegre Eliseu Santos, mencionou que, enquanto esteve preso, ouviu outra pessoa assumir que conduzia a moto no dia da morte de Becker.
A ex-secretária e assistente de Bayard, Andreia Schwuchow, última testemunha a ser ouvida, também teve o depoimento mantido sob sigilo na maior parte do tempo. Eram previstas ainda outras duas oitivas, mas uma das testemunhas acabou dispensada antes do início do júri, em função de problemas de saúde, e outra por concordância entre as partes. Ao todo, foram cinco depoentes de acusação e nove de defesa.
O processo envolvendo a morte de Becker passou a tramitar na Justiça Federal, que recebeu a denúncia em 2013, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) interpretar que o homicídio havia sido motivado pela influência que o médico exercia não só junto ao Cremers, mas também diante do Conselho Federal de Medicina.
Nesta sexta, o Cremers emitiu nota em que cita estar acompanhando o julgamento, relembra a importância de Becker para o órgão e reitera confiança no júri.
Confira a nota do Cremers:
“O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul acompanha com atenção o julgamento do caso do ex-presidente do Cremers, Dr. Marco Antônio Becker, iniciado na última terça-feira (27), na 1ª Vara Federal de Porto Alegre.
Dr. Becker foi um líder da classe médica e teve importante atuação neste conselho, no qual foi presidente por mais de uma década. Ele foi morto a tiros em 4 de dezembro de 2008, quando exercia o cargo de vice-presidente.
O Cremers confia no trabalho do júri e espera que a justiça seja feita.”