Nem mesmo a pressão oficial e dos setores produtivos foram suficientes para que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduzisse a taxa básica de juros (Selic) dos 13,75%, pela quarta reunião do ano. O comunicado pode ter frustrado as pretensões de quem esperava uma sinalização de que no mês de agosto poderia haver uma redução do indicador, mas também não há referência de que a taxa pode se elevar nos meses que temos a frente. A ata do comitê, que será divulgada na próxima semana, possivelmente, trará respostas.
Com viagem marcada para Basileia, na Suíça, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, não vai estar por aqui para enfrentar as reações. O dirigente viaja nesta quinta-feira, 22, para participar da 93rd Annual General Meeting, promovida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS). A informação consta de despacho divulgado no Diário Oficial da União (DOU). O retorno de Campos Neto está marcado para a segunda-feira, 26.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), Gilberto Porcello Petry, afirma que a demora na aprovação do Marco Fiscal, a manutenção de resultados positivos no mercado de trabalho e as incertezas quanto às metas de inflação a serem definidas na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional são elementos que fazem o Banco Central manter a cautela, segurando a taxa de juros em 13,75% ao ano.
“Nesse contexto, esperamos que os riscos sejam dissipados o quanto antes, para que o Banco Central tenha um cenário mais claro para iniciar o ciclo de cortes na Selic, trazendo um alívio às atividades produtivas já muito penalizadas”, afirma.
Mesmo com o tom mais contido do comunicado ao final desta quarta-feira, 21, analistas acreditam que já haveria um ambiente para reduzir a taxa Selic em agosto. No encontro anterior, o Copom mencionou “incerteza presente sobre o texto”, como o risco de alta para o cenário inflacionário. No comunicado, o BC informou ainda que “avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.
ARGUMENTOS
Segundo o comunicado do Copom, “a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia”.
O Comitê relembrou que os passos futuros da política monetária dependerão “da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
“Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente”, disse o BC.