Copom contrata problemas ao não indicar queda dos juros, avalia Haddad

Ministro considerou “muito ruim” comunicado emitido pelo Banco Central

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.

A decisão do Banco Central (BC) de não indicar o início da queda dos juros arranja problemas para o futuro, como aumento de inflação e de carga tributária, disse nesta quinta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além de criticar a manutenção da Taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida, o ministro considerou “muito ruim” o tom do comunicado emitido pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

“Nós estamos contratando um problema com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Está contratando inflação futura e aumento da carga tributária futura. É isso que está sendo contratado”, disse Haddad em Paris, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem oficial.

No comunicado, o Copom indicou que ainda existem riscos sobre a inflação, como eventuais pressões globais sobre os preços e incertezas “residuais” sobre a votação do arcabouço fiscal. Diferentemente das últimas reuniões, o comitê retirou a frase que sugeria novos aumentos da Selic em caso de alta da inflação, mas a autoridade monetária não informou se – e nem quando – pretende cortar a taxa.

Para Haddad, existe um descompasso entre a avaliação do Banco Central e os dados econômicos recentes, que apontaram forte desaceleração da inflação, o que preocupa o Ministério da Fazenda.

“O comunicado, como de hábito, é o quarto comunicado muito ruim. Todos foram ruins. E às vezes ele corrige na ata [divulgada seis dias após a reunião do Copom], mas não alivia a situação. Há um descompasso entre o que está acontecendo com o dólar, com a curva de juros, com a atividade econômica. É um claro sinal de que podíamos sinalizar um corte na Taxa Selic”, continuou a criticar Haddad.

Boletim Focus
O ministro também pediu que o Banco Central leve menos em consideração o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo órgão, na hora de tomar decisões. “A pesquisa não pode substituir a autoridade monetária. Tem uma pesquisa que está errando há seis meses, pode até continuar levando em conta, mas tem que sopesar os argumentos”, disse o ministro.

Na última edição da pesquisa, os analistas de mercado projetaram a queda da Selic a partir de agosto.

Contas públicas
A persistência do BC em não reduzir a Selic, destacou o ministro, também vai impactar as contas públicas porque União, estados e municípios perdem arrecadação com a atividade econômica enfraquecida.

“Os estados estão perdendo arrecadação. Os municípios estão perdendo arrecadação. A União não está performando”, declarou Haddad. O ministro, no entanto, ressaltou que vêm sendo resolvidas algumas defasagens no caixa do governo. Ele citou a previsão de o Congresso votar o projeto de lei que reformula o sistema de votação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), tribunal administrativo da Receita Federal, que pode reforçar a arrecadação em R$ 30 bilhões por ano com o retorno do voto de desempate a favor do governo.

Dados positivos
Na última segunda-feira, Haddad e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, almoçaram fora da agenda oficial em um restaurante de Brasília. O ministro disse estar fazendo “um esforço genuíno” para entender o que se passa no Banco Central de um ponto de vista técnico.

“Estou falando como brasileiro, não estou falando aqui de outra maneira. Eu não consigo entender. Com tudo o que aconteceu esse mês [queda da inflação]? Eu não vou levantar hipótese sobre a subjetividade das pessoas. O que eu digo é o seguinte: na técnica, eu não consigo entender esse comunicado [do Copom]”, criticou Haddad. O ministro reiterou que volta a se encontrar com Campos Neto na próxima semana, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que vai definir a meta de inflação para 2026 e, em tese, pode revisar as metas para 2023, 2024 e 2025.

Além da forte desaceleração da inflação, o ministro citou, como dados positivos para a economia em junho, a melhora da perspectiva da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) e os avanços nas negociações para a votação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.