O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, primeiro depoente da CPMI do 8 de janeiro, negou que a instituição tenha atuado para favorecer o então candidato Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, fazendo operações de fiscalização principalmente na região Nordeste, onde Lula se mantinha à frente nas pesquisas de intenção de voto.
“É a maior injustiça já realizada na história da PRF”, afirmou ele, que citou, inclusive, que a fiscalização realizada no Nordeste acabou sendo menor que a de outras regiões. Segundo Vasques, foram 618 pontos fiscalizados em todo o país, 310 corresponderam a locais onde Lula ganhou a eleição, contra 316 onde Bolsonaro venceu.
Segundo ele, não houve registro de que alguém tenha deixado de votar por conta da fiscalização da Polícia Rodoviária Federal e somente cinco ônibus foram recolhidos em operações no Nordeste.
Na primeira fala ao colegiado, Vasques apresentou um dossiê, com mais de 300 páginas, sobre a atuação da polícia.
“Não é verdade que as operações tenham sido direcionadas. Lembrando que as polícias trabalham com georreferenciamento e estatísticas. Então, o Nordeste tem o maior efetivo, a maior rede viária, a segunda maior frota de ônibus e vans do Brasil. No Nordeste também é onde, infelizmente, ocorreram a maior quantidade de prisões sobre crimes eleitorais nas últimas cinco eleições e a maior apreensão de armas de fogo”, disse.
Ele também desmentiu um relatório do Ministério da Justiça, divulgado em abril, que constatou três desvios de padrão relacionados à atuação da PRF no segundo turno das eleições. Segundo o ministério, foram fiscalizados 2.185 ônibus no Nordeste no dia 30 de outubro do ano passado; na região Centro-Oeste, foram 893 ônibus; no Sul, 632; no Sudeste, 571; e na região Norte, 310.
Segundo o ex-diretor-geral, as operações da PRF no dia do segundo turno não prejudicaram as eleições. “Não existe nenhum brasileiro que deixou de votar nas eleições por causa das abordagens dos policiais rodoviários federais. Nenhum ônibus foi apreendido”, completou.
Ex-diretor justifica foto
Silvinei Vasques disse, ainda, que tinha relação “profissional” com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele afirmou que as fotos que tirou com o ex-chefe do Executivo só foram possíveis porque Bolsonaro “foi o único presidente que autorizou” os registros e que ter uma foto ao lado do presidente da República “emociona” um policial.
“Eu nunca fui em nenhuma festa dele, por exemplo, da filha dele mais nova. Não sou padrinho, não sou parente. Nunca votei nele porque meu titulo de eleitor está e sempre esteve em Florianópolis. O que a gente tinha era uma relação muito profissional”, disse.
O ex-diretor é réu em um processo que corre na Justiça do Rio de Janeiro, sob acusação de improbidade administrativa. O Ministério Público Federal alegou que Vasques usou o cargo de forma indevida, em benefício eleitoral de Bolsonaro. “Eu sou um cidadão. Nunca cometi crime eleitoral. Usei o meu celular, minha rede social, no meu horário de folga”, disse.
Silvinei ressaltou que recebeu ligações de Bolsonaro, mas todas para tratar de serviços públicos, principalmente quando o ex-presidente saia às ruas ou para pedir melhorias na carreira de policial rodoviário federal.