O prefeito de Caraá, Magdiel Silva (PSDB), confirmou que vai ser preciso reconstruir toda a cidade, uma das mais atingidas pelo ciclone que passou pelo Rio Grande do Sul entre quinta e sexta. “As perdas são irreparáveis. A gente vai ter que reconstruir toda a cidade do zero”, declarou, em entrevista à Rádio Guaíba.
Silva descreveu o cenário como catastrófico. “A situação da nossa cidade hoje é catastrófica. Edificações rurais, edificações urbanas, prédios públicos e do setor calçadista, todos destruídos… Neste momento, a gente está concentrando todas as nossas forças para resgatar os ainda desaparecidos. E também levando mantimentos, levando água potável para aqueles isolados.” Conforme o mandatário, um gabinete de crise vai ser instaurado, nesta segunda-feira, para contabilizar e detalhar as perdas.
Durante o sábado, quatro localidades do município, que permaneciam isoladas desde quinta-feira, foram acessadas pela Defesa Civil municipal. O coordenador do órgão na cidade, Antônio Augusto Borges, explica que se tratou de um passo importante.
“Então, já se estabeleceu uma linha de suprimento de água. É roupa, alimentos, material de limpeza, e isso é um passo importante porque é justamente a primeira assistência humanitária, para levar um pouco de conforto às famílias”, destacou.
O coordenador relatou que dois locais seguiam inacessíveis por meio de carros, na tarde deste domingo. “Mas estamos fazendo o suprimento usando um bote, fazendo o transporte de alimento, medicamento e água.” Borges estima que 400 famílias estejam sendo atendidas pelo poder público.
Centro de Operações
Um Centro de Operações passou a funcionar no CTG Sentinela do Sinos, em frente a prefeitura de Caraá. O local recebe e entrega doações, além de servir como abrigo para quem necessita. Neste domingo, conforme o município, a maior demanda era de escovas de dente, absorventes, esponjas e sacos de lixo.
Acessos ao município
Conforme a Defesa Civil Municipal, na quinta-feira um dos acessos ao município, por meio de uma ponte, ficou bloqueado com o rompimento da estrutura. Com isso, a entrada pelo Morro da Gaza, na ERS-030, passou a ser única disponível. Contudo, desde esse sábado, com a baixa no nível dos rios, o ingresso pelo Morro da Borússia, em Osório, voltou a ser possível. O acesso pelo Pátio da Forquilha, mais próximo de Santo Antônio da Patrulha, também está liberado. Para reduzir o trajeto dos desvios, as equipes seguiam trabalhando, neste domingo, para possibilitar o acesso a Caraá em outro trecho, pelo município vizinho de Santo Antônio da Patrulha.
Sobrevoo de autoridades
Os ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, e o governador Eduardo Leite fizeram um sobrevoo na manhã de sábado pelas áreas atingidas pelo ciclone. Durante a visita em Caraá, Leite afirmou que obteve informações do prefeito de que 50 casas haviam ficado completamente destruídas pelo vendaval.
Relato de moradora
A moradora de Caraá, Ângela Quaresma, e o marido, Celso, perderam a casa em que viviam no município no litoral norte. “A gente perdeu tudo, não temos mais nada, a gente só ficou com a roupa que tinha saído, roupa do corpo mesmo”, conta.
A moradora cita que ela e o marido só tiveram a integridade preservada porque fizeram “tudo ao contrário”. O casal esteve em uma consulta médica em Novo Hamburgo, que já havia sido remarcada três vezes. Após outros compromissos na cidade do Vale do Sinos, Ângela e Celso visitaram os filhos, que vivem na região. No retorno a Caraá, viram a ponte que dá acesso à cidade desabar.
“Quando estávamos chegando perto da ponte, a gente ouviu uma coisa e se perguntou o que era aquilo. Então descemos do carro e fomos até a ponte. Aí caiu o resto, na nossa frente. Não tínhamos como nós passar para casa“, detalha.
Ao retornar a Santo Antônio da Patrulha, a fim de tentar ingressar por um outro acesso, o casal precisou abastecer, mas encontrou o posto de combustíveis alagado. Ângela e o marido, então, passaram a noite dentro do carro, em outro posto. Na manhã seguinte, a família encontrou a casa completamente destruída.
“Quando a gente chegou em casa, na esquina assim… Cadê a nossa casa? Aí foi um momento meu de desespero, todos os vizinhos já vieram, já nos abraçaram, já nos acolheram e eu chorei muito. Não tinha o que fazer. Mas depois eu comecei a lembrar tudo isso que aconteceu para nós, e agora só estou agradecendo… Porque a gente está aqui. A casa não tem, não tem nada, só a gratidão, por estar viva”, completa.