Cidades são evacuadas após destruição parcial de barragem na Ucrânia

Represa Kakhovka fica na área de Kherson, ocupada pelos russo e que sofreu múltiplos ataques ucranianos

Foto: Alina Souza/Correio do Povo

A destruição de uma barragem em uma área do sul da Ucrânia controlada pela Rússia provocou a retirada de moradores nesta terça-feira (6) das localidades próximas, que enfrentam o risco de inundações, e uma troca de acusações entre os dois países em guerra. A Ucrânia afirmou que a destruição da barragem aumenta rapidamente o risco de uma “catástrofe nuclear” na central de Zaporizhzhia, que usa água da represa atingida para sua refrigeração, mas a Rússia e a Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) descartaram um perigo imediato.

A barragem Kakhovka, que fica em uma área ocupada da região de Kherson (sul), foi parcialmente destruída por “múltiplos ataques” ucranianos, denunciaram as autoridades designadas por Moscou. Autoridades ucranianas, no entanto, acusaram a Rússia de ter destruído a barragem para tentar “frear” a contraofensiva que Kiev prepara para recuperar territórios perdidos no sul e leste do país. “O objetivo dos terroristas é evidente: criar obstáculos para as ações ofensivas das Forças Armadas ucranianas”, declarou Mikhailo Podoliak, conselheiro da presidência.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional depois do “crime de guerra” russo, afirmou seu chefe de gabinete, Andriy Yermak. A Ucrânia chamou a Rússia de “Estado terrorista” na Corte Internacional de Justiça (CIJ). O ataque contra a barragem de Kakhovka “provocou a retirada de civis e graves danos ecológicos”, declarou o representante de Kiev, Anton Korinevich, na principal jurisdição da ONU. “As ações da Rússia são as ações de um Estado terrorista, de um agressor”, acrescentou.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que a Rússia prestará contas pela destruição de uma infraestrutura civil, o que ele também classificou de “crime de guerra”. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, criticou a “brutalidade” da Rússia após a destruição da barragem hidreléctrica.

Inundações e risco nuclear

O comandante militar ucraniano em Kherson, Oleksander Prokudin, disse que várias localidades ficaram “completamente ou parcialmente inundadas” e a população começou a abandonar a região. “Quase 16 mil pessoas estão na zona crítica, na margem direita da região de Kherson”, afirmou Prokudin nas redes sociais. Do outro lado, o governador de Kherson nomeado pela Rússia, Andrey Alekseyenko, disse que nenhuma grande cidade está sob ameaça de inundação após o aumento de entre “dois e quatro metros” do nível da água.

A barragem de Kakhovka, tomada no início da ofensiva russa na Ucrânia, abastece a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e também fornece água de resfriamento para a central nuclear de Zaporizhzhia. Por este motivo, Podoliak alertou que o risco de “catástrofe nuclear” na central, a maior da Europa, “aumenta rapidamente” após a destruição parcial da barragem.

Os alertas foram rebatidos pelo governante russo local e pela AIEA. “Os especialistas da AIEA na central nuclear de Zaporizhzhia estão monitorando de perto a situação. Não há risco imediato para a segurança nuclear na central”, tuitou a agência da ONU.

Os danos à barragem aconteceram após um dia marcado por informações contraditórias: a Ucrânia reivindicou avanços ao redor da cidade de Bakhmut (leste) e a Rússia anunciou que impediu um ataque em larga escala em Donetsk. A vice-ministra ucraniana da Defesa, Ganna Maliar, disse que Bakhmut permanece como o “epicentro das hostilidades”. “Estamos avançando em um front bastante amplo”, destacou. Maliar também admitiu que as tropas ucranianas estão “executando ações ofensivas” em alguns pontos do front, mas sem revelar detalhes.