“É um descaso com as entidades”, alega representante da Fiergs sobre reajuste de 9% no mínimo regional

Entidades empresariais dizem que foram pegas de surpresa e que não há espaço para um reajuste nesse índice

Foto: José Cruz / Agência Brasil

No dia em que quatro entidades empresarias divulgaram nota oficial se manifestando contrárias ao reajuste de 9% no salário mínimo regional, anunciado pelo governador Eduardo Leite na semana passada, um representante dos empregadores industriais classificou a medida de “descaso” com as entidades e revelou que todas foram pegas de surpresa com a decisão.

Fiergs, Fecomércio, Farsul e Federasul destacaram, no comunicado, que não existem parâmetros que justifiquem o índice de reajuste em um contexto de retração do PIB gaúcho em 5,1% registrado no ano passado. O coordenador do Conselho de Relações do Trabalho da Fiergs, Guilherme Scozziero, conversou com a Rádio Guaíba.

“Nós fomos pegos de surpresa. Esperávamos conversar neste ano sobre o piso do ano que vem. Soubemos pela imprensa sobre o reajuste. Nos pareceu um certo descaso com as entidades empresariais”, declarou.

Scoziero também reforça que a responsabilidade com que o governo do Estado olha para o próprio caixa deve ser a mesma para o setor privado. “Toda vez que o Estado interfere na economia via decreto ou canetada, ele desequilibra essa relação. A iniciativa privada agora precisa aumentar em 9% o salário que ela paga. Daí o pessoal pergunta: e o servidor público? ah não, o servidor público não pode porque ‘eu tenho responsabilidade com o meu caixa, tenho que olhar as minhas contas’. Certo, mas ele perguntou se os outros têm condições de aumentar esses 9% ou ele supõe que eles tenham condições de aumentar esses 9%?”, questiona.

O coordenador da Fiergs também pondera que o setor recém começa a se recuperar da pandemia e que não houve nenhum esclarecimento sobre como se chegou ao índice proposto.

“Todo mundo sofreu na pandemia, não resta dúvida, a economia ainda está sofrendo, e daí a gente vem e diz: ‘Vamos esquecer tudo e vamos aumentar o salário de novo’. Por que o número é 9 [%], por que ele não é 7, ou não é 11? Não dá pra entender de onde vem esse número”.

Além disso, as entidades entendem que o índice está bem acima da inflação, considerando que o acumulado nos últimos 12 meses do INPC ficou em 3,83%. A nota também reforça que em fevereiro deste ano já havia sido concedido um reajuste no piso regional de 10,6%, também acima do INPC registrado para o período, de 5,71% (no acumulado em 12 meses até janeiro). Guilherme Scozziero reitera que elevações de salário sem o devido planejamento podem resultar em mais informalidade.

“Um salário colocado de cima pra baixo é ruim pra todo mundo, é ruim pra toda economia, porque na hora que a empresa não puder pagar e o empregado precisar receber eles vão fazer um acordo por fora, e isso vai aumentar muito a informalidade, que já não é baixa no Brasil”, alerta.

O projeto de lei proposto pelo governo estadual deve ser encaminhado à Assembleia Legislativa durante esta semana. De acordo com Scozziero, as entidades empresarias devem se reunir com parlamentares, pressionando para que votem contra.

De outro lado, as centrais sindicais entendem serem insuficientes os 9% previstos no projeto. Entidades como a CUT e a CTB pedem que seja recuperado o valor do mínimo regional nos patamares de quando ele começou a existir, em 2001, representando ao menos 1,28 salário mínimo do país. Para se atingir esse valor, o reajuste pleiteado era de 15,42%. As centrais sindicais também devem intensificar as mobilizações nos próximos dias junto à Assembleia Legislativa. Para o presidente da CUT, Amarildo Cenci, o índice mínimo aceitável parte de 10,5%.