Os extremos do clima acarretaram perdas de R$ 287 bilhões à produção agropecuária brasileira entre 2013 e 2022, sendo 87% desse valor atribuído às secas ocorridas no país. A agricultura foi o setor mais afetado pela falta de chuva, com prejuízos de R$ 186,2 bilhões registrados no período. No caso do Rio Grande do Sul, o estado mais afetado pelo fenômeno, o saldo negativo deixado pelas sucessivas estiagens nas lavouras chegou a R$ 38,5 bilhões, representando 21% do total nacional.
Os números são de um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a partir de dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (S2ID/Midr).
Considerando-se também os prejuízos decorrentes do excesso de chuvas, os danos dos extremos climáticos causaram ao Rio Grande do Sul perdas totais de R$ 44,5 bilhões de 2013 a 2022. “O efeito negativo do excesso ou falta das chuvas sobre as lavouras é bastante evidente no Rio Grande do Sul, que nos últimos anos teve perdas significativas com a seca”, diz o estudo da CNM, destacando que o fenômeno resultou em uma queda de 29,7% no valor bruto da produção (VBP) agrícola do Estado em 2022 – o indicador é calculado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) com base nos preços pagos aos produtores pelos 26 maiores produtos agropecuários do Brasil.
Outras projeções, porém, sugerem um rombo ainda maior no agronegócio gaúcho. No início de março, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), estimou em cerca de R$ 100 bilhões as perdas da estiagem apenas no ciclo 2022/2023. Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, o estudo da CMN é “oportuno”. “Ele traz uma discussão da nossa necessidade de medidas para diminuir essas perdas: o processo de reservação de água, melhoria da estrutura do solo para reter mais umidade e, claro, as questões de gestão de caixa para enfrentar problemas que são recorrentes”, avalia.
De acordo com o levantamento da CNM, os extremos climáticos levaram os municípios brasileiros a emitir 14.635 decretos de situação de emergência ou calamidade pública nos últimos 10 anos. No período analisado, 6,8 milhões de hectares deixaram de ser colhidos no país por conta de falta ou excesso de chuva.
“Do ponto de vista mais geral, fica muito claro que determinadas leis ambientais que foram exageradas terminam impedindo que possamos fazer uma série de medidas”, diz o economista-chefe da Farsul. “Está se mostrando o custo, que é extremamente elevado para o país. Poder reservar água significa perder menos por conta de estiagem e perder menos por conta de enchente, tanto no campo quanto na cidade.”
Por Patrícia Feiten / CP