Fiergs pede ajustes no arcabouço fiscal para que taxa Selic comece a cair

Para o presidente da entidade, Gilberto Petry, projeto apresentado ao Congresso pelo ministro Fernando Haddad mantém as incertezas quanto à estabilidade da trajetória da dívida pública

Presidente da Fiergs, Gilberto Petry | Foto: Alina Souza / CP

Em nota emitida na noite desta quarta-feira, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) contemporizou a sexta manutenção consecutiva da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano, mesmo após a apresentação de um novo conjunto de regras fiscais, que devem substituir o teto de gastos, pelo Ministério da Fazenda. Para o presidente da entidade, Gilberto Petry, a inflação e a situação fiscal do país ainda servem de justificativa para que Banco Central mantenha os juros no patamar atual. Para isso, o industrial pede que o governo e o Congresso façam ajustes no arcabouço fiscal, permitindo “que o Banco Central inicie o ciclo de redução da taxa o quanto antes”.

De acordo com Petry, o projeto apresentado ao Congresso pelo ministro Fernando Haddad mantém as incertezas quanto à estabilidade da trajetória da dívida pública. O presidente da Fiergs salienta que o mecanismo escolhido pelo governo para chegar a uma condição de superávit primário requer aumento de receita, em vez de contenção do gasto público. Petry também lembra que a Fazenda estabeleceu, no texto do arcabouço, que o descumprimento da meta de resultado primário pelos gestores públicos não vai mais configurar infração, e que o contingenciamento de despesas deixa de ser obrigatório. “Por esses motivos, as expectativas inflacionárias foram elevadas”, considerou o dirigente.

Petry também enfatiza que, mesmo com a redução observada em 12 meses, a inflação continua trazendo apreensão, já que se mantém acima da meta estabelecida pelo Banco Central.

O presidente da Fiergs encerra a nota frisando que a atividade econômica e o mercado de crédito ainda sofrem com os efeitos da alta dos juros, o que aumenta os desafios para uma indústria nacional já penalizada. De acordo com o industrial, o custo para a tomada de capital de giro segue muito elevado, com os bancos mais seletivos e as empresas enfrentando um cenário de crédito retraído.

No maior patamar desde o início de 2017, a Selic a 13,75% ao ano vai ficar vigente pelos próximos 45 dias, quando os diretores do BC voltarão a discutir a conjuntura econômica nacional.

O Copom reforça a manutenção da Selic como principal instrumento de política monetária para conter a inflação no país. Isso porque juros mais altos encarecem o crédito, reduzindo a disposição para consumir e estimulando as famílias a manter dinheiro investido. De outro lado, os juros mais altos inibem o crescimento da economia.

Para os analistas do mercado financeiro, a Selic só deve passar a cair no segundo semestre, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encabece a pressão para que isso ocorra antes. Os especialistas preveem um primeiro corte, de 0,25 ponto percentual, na reunião do Copom de 20 de setembro. Até o fim do ano, o mercado espera outras duas outras quedas de meio ponto, com a taxa básica projetada em 12,5%, em dezembro.

Entenda a taxa Selic

A taxa básica de juros é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações, em títulos públicos federais, que as instituições financeiras fazem.

Em linhas gerais, a Selic é a taxa paga pelos bancos para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo para empresas ou consumidores em forma de empréstimo ou financiamento. Por esse motivo, os juros cobrados dos consumidores são sempre superiores à Selic.

Quando o Copom aumenta a Selic, isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito, estimulando a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.