“Se continuar assim, lotações vão desaparecer”, reclama presidente da ATL após congelamento de tarifa dos ônibus em Porto Alegre

Magnus Isse relata que transporte por lotações perdeu até 40% de passageiros no pós-pandemia

Foto: Alina Souza/ Correio do Povo

Após o anúncio, na semana passada, do congelamento da tarifa dos ônibus em Porto Alegre em R$ 4,80, pelo terceiro ano seguido, outra modalidade de transporte pede a mesma atenção na capital. O transporte seletivo, cuja tarifa está em R$ 8 desde julho de 2022, relata situação “extremamente difícil”, segundo reforça o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação (ATL), Magnus Isse. O agravamento, conforme o dirigente, está relacionado principalmente à queda de 30% a 40% do número de passageiros no pós-pandemia, e ainda aumentos expressivos no preço do óleo diesel.

“Sempre fomos atrelados ao sistema dos ônibus. O ônibus não subindo, a lotação não pode subir também. Se não, vai haver uma diferença tão grande que ninguém mais vai querer andar de lotação, além de uma concorrência desleal. O que queremos é igualdade, o que é feito para um é para todos”, afirmou ele. Ainda segundo Magnus, a chegada do transporte por aplicativo e a proliferação dos clandestinos também provocaram uma disputa não-benéfica aos lotações.

Das 29 linhas atendidas pelas lotações e citadas pelo presidente, ele estima que de sete a oito pararam depois da fase mais aguda da Covid-19. “Nosso sistema emprega muita mão de obra, e como vamos pagar esses funcionários, e suas obrigações sociais? Tudo isto nos criou uma situação insustentável. Tivemos que demitir um monte de pessoas e enxugar muitas coisas para sobreviver”, argumenta.

Apesar da queda, Magnus cita que cerca de 500 mil pessoas são transportadas pelos seletivos por mês em Porto Alegre, a maioria mulheres, na proporção de seis para cada quatro homens, e duas em cada dez idosas, ou seja, isentas no transporte coletivo. “Essas, porém, preferem andar conosco. O restante utiliza nosso serviço porque o transporte passou primeiro e está atrasado. Quem sustenta nosso sistema são mulheres e idosos”, enfatiza.

Diante da situação, a categoria buscou a Prefeitura para solicitar auxílios, e conseguiu, em primeiro lugar, a isenção do pagamento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) até 31 de dezembro de 2024, o que não é considerado suficiente. O projeto passou na Câmara Municipal em agosto de 2022. “Isso era para ter tirado desde 2013. Ninguém nos ajuda, não temos nenhuma regalia”, comenta o presidente.

Magnus disse ter ouvido recentemente do prefeito Sebastião Melo a promessa de “forma taxativa” de que as lotações não acabarão. Por ora, um grupo de estudo, criado na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), analisa a situação.

A ATL elabora um documento em que traça um diagnóstico do sistema de transporte  seletivo, e deve apresentar os dados ao prefeito em uma nova reunião, nos próximos dias. A reportagem solicitou um posicionamento da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU) sobre as declarações e aguarda retorno.