Polícia Civil apura mensagens de ameaças de invasão a escolas de Porto Alegre

Secretaria de Segurança do RS apela para o não compartilhamento do conteúdo

Foto: Rádio Guaíba

Mensagens em redes sociais sobre ameaças de supostos ataques a estabelecimentos de ensino vêm causando apreensão nas comunidades escolares gaúchas, após o atentado ocorrido em Blumenau, em Santa Catarina, que deixou quatro crianças mortas e outras feridas no último dia 5. Por conta do pânico instaurado, muitos pais deixaram de levar os filhos à escola. Aulas foram suspensas em algumas situações.

“Estou muito preocupada com a segurança das crianças nas escolas. Esta semana está tendo ameaça de mais invasão nas escolas. No grupo da escola do meu filho foram divulgados vários áudios falando sobre isso. Na dúvida não vou mandar meu filho para a escola amanhã. Nós que temos filhos nas escolas temos que orientar as crianças para tomarem cuidado e dar dicas”, escreveu a mãe de um aluno de uma escola municipal de Porto Alegre.

Deca apura

Nesta segunda-feira, a diretora da Divisão Especial da Criança e Adolescente (Deca) do Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis da Polícia Civil, delegada Caroline Bamberg Machado, assegurou que todas as postagens e mensagens de ameaças vêm sendo apuradas.

“As pessoas envolvidas estão sendo ouvidas. Os suspeitos estão sendo interrogados e todas as providências cabíveis aos fatos aos casos estão sendo feitas”, salientou, citando ainda a realização de perícias nos telefones celulares. “Já identificamos quatro indivíduos”, revelou.

Conforme a delegada Caroline Bamberg Machado, o crime de ameaça prevê a detenção de um a seis meses. Ela lembrou que é muito difícil dizer que é uma brincadeira ou trote e que os casos são tratados como “ameaças efetivamente” por parte dos autores.

“Vamos coletar todas as provas possíveis para deixar bem claro se é ou não um fato verdadeiro”, assinalou. “Por enquanto são somente ameaças e nenhum fato de violência efetivo. A Polícia Civil está trabalhando para que todas as denúncias sejam apuradas”, enfatizou a diretora da Deca.

Segurança Pública monitora

Já a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) emitiu uma nota oficial na qual esclarece que o Departamento de Inteligência da Segurança Pública (Disp), juntamente com as agências de inteligência das forças de segurança pública, fazem “o monitoramento permanente de diversas fontes de informação, inclusive redes sociais, para prevenir possíveis ações criminosas, o que abrange também o ambiente escolar”.

A SSP informou ainda que os órgãos de segurança pública dispõem de protocolos específicos para casos dessa natureza. “A Brigada Militar realiza o policiamento e patrulhamento ininterrupto em áreas escolares visando a segurança e o bem-estar da população. A Polícia Civil mantém, por meio de unidades especializadas, investigações contínuas sobre eventuais riscos no contexto da rede de ensino. Além disso, programas educacionais e preventivos são realizados junto a rede escolar, de forma permanente, para coibir o uso de drogas e violência como o Papo de Responsa, da Polícia Civil, e o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), realizado pela Brigada Militar”, esclareceu no comunicado.

A SSP apelou ainda para que não sejam compartilhadas “imagens de ataques em escolas, uma vez que pesquisas comprovam que essa exposição pode resultar em efeito de contágio, com valorização de atos de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que eleva o potencial para estimular novos casos”. Em caso de suspeita, a SSP mantém disponíveis para denúncia os canais de comunicação da SSP (181) e Polícia Civil (197), nas 24 horas por dia.

A Polícia Civil mobilizou o Departamento de Polícia Metropolitana, Departamento de Polícia do Interior, Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis e Gabinete de Inteligência para monitorar qualquer ameaça feita nas redes sociais ou ligações de telefone. Os autores serão responsabilizados. Já a Brigada Militar aumentou o patrulhamento nos entornos das instituições de ensino.

Mensagens não devem ser compartilhadas, alerta delegado

Especialista em investigação de crimes cibernéticos e segurança da informação, o delegado Emerson Wendt, do Conselho Superior de Polícia da Polícia Civil, recomendou que as pessoas não compartilhem com as outras qualquer tipo de mensagem, áudio ou vídeo nesse sentido. Em vez disso, orientou, as direções das escolas e autoridades da segurança pública, como Brigada Militar e Polícia Civil, é que devem ser comunicadas sobre os rumores com o objetivo de verificarem a autoria, procedência e veracidade das postagens, possibilitando “uma avaliação mais adequada” da situação.

“As pessoas muitas vezes acabam se apavorando, não conferem e passam para frente. Tem que ter todo um cuidado, não simplesmente confiar”, observou. “Se transmitir para um grupo perguntando se é verdadeiro ou falso, alguém não vai ler e vai transmitir”, afirmou. Ele recordou que uma proliferação de ameaças também se registrou depois do ataque em uma escola em Suzano (SP), em 13 de março de 2019.

No próximo dia 20, o massacre de Columbine, nos Estados Unidos, completa 20 anos, e os boatos podem ser redobrados até a data. “Importante é conferir antes de passar para frente”, enfatizou. Ele disse que possivelmente as autoridades devem redobrar os cuidados e lembrou que os autores das postagens podem ser identificados e responsabilizados.