Não faltam argumentos para enumerar os muitos motivos que fazem da South Summit Brasil um evento necessário para Porto Alegre e o Rio Grande do Sul. Também são inúmeras as vozes que ecoam sobre o grande evento que aportou no Cais Mauá e seus benefícios para a economia local. Trazê-lo de Madri para a Capital foi um feito e tanto. Mas com o compromisso de realizá-lo até 2027, é preciso estar atento para os problemas que ainda se fazem presentes nesta segunda edição.
Quem esteve ontem nos pavilhões históricos do Cais conseguiu perceber que melhorias ocorreram entre um ano e outro. Mas ainda falta um caminho a ser percorrido. O sol forte e o céu azul fizeram do cartão-postal da cidade um lindo cenário turístico, mas que cobrou um alto preço dos visitantes. O calor, em especial à tarde, extravasou e até mesmo entre os palestrantes o desconforto era perceptível.
Compromissado com as causas ambientais, no evento não há plástico, razão pela qual as garrafinhas de água devem ser abastecidas em bebedouros. A solução tecnológica para oferecer água gelada parou de funcionar no meio da tarde, no pico do calor, e os visitantes recorreram aos tradicionais galões de 20 litros. Com grande procura do público, longas filas se formaram para acessar as arenas que, em muitos momentos ficaram lotadas, e não faltou quem reclamasse por perder uma programação.
Alheio à organização do evento em si, mas essencial para seu sucesso, a organização da cidade na gestão do trânsito também foi alvo de reclamação. E quem engrossou o coro foi nada menos que Luiza Helena Trajano. “O ambiente de inovação é ótimo, mas fiquei uma hora presa no engarrafamento do aeroporto até aqui, vocês precisam melhorar isso”, disse, em tom de brincadeira.
É natural que um evento dessa grandiosidade gere transtornos e que melhorias sejam acrescidas ano após ano. Faz parte do processo de aprendizagem. Neste sentido, Porto Alegre ainda tem no que inovar.
Muro cada vez mais colorido
Enquanto um destino definitivo para o muro da Mauá não se concretiza, a prefeitura conseguiu viabilizar junto à iniciativa privada a exploração comercial da área e a consequente melhoria do aspecto visual da região. Agora, com a South Summit, foi preciso pensar o outro lado da estrutura, que fica para o Cais e que até então figurava com uma imensidão de tinta branca. Ontem, no primeiro dia da South Summit, o muro ficou mais colorido. Duas ações envolvendo grafites começaram a dar cor a parte do espaço, enquanto o público entrava na feira. “Vamos fazer a arte neste setor, que mede 9 metros por 3. Faremos isso enquanto a galera vai passando. Será algo que dialoga com o evento. Fala de Porto Alegre, conexão e inovação”, explicou Renan Canzi, formado em arquitetura e que há oito anos faz este tipo de arte.
Carisma, cobrança e distanciamento
A presença de Luiza Helena Trajano pelo Cais Mauá foi um dos grandes pontos do primeiro dia da programação. Não sobrou lugar na principal arena para ouvir a empresária bilionária e presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. E, em diversos momentos, conseguiu arrancar risos da plateia. “Tem gente que olha para uma planta e a planta morre. Está vivo porque não conseguiu morrer… Então, valorizo muito o entusiasmo, o querer fazer, o querer aprender. As pessoas só querem uma oportunidade”, defendeu.
Sempre sondada a respeito, ela voltou a rechaçar um cargo político ou filiação partidária. “Falam que sou de esquerda, que eu sou Lula. Eu sou Brasil. Não sou contra a política, mas sou pelo Brasil. O que muda é a política pública, precisamos disso para mudar nossa realidade.”
Questionada se contribui diretamente para o governo recém-eleito, desconversou: “Eu sempre estou com os governos que fazem as coisas bem feitas. Eu sempre acho que tem que haver desenvolvimento, ter emprego, combater a desigualdade social. Esse sempre é o meu foco”.