Sob ataque, BC alega que definição de juros exige “serenidade e paciência”

Recado aparece em ata da reunião que manteve a Selic em 13,75% Em resposta, ministro da Fazenda defendeu que instituição precisa "ajudar" economia a crescer

Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Em ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira, o Banco Central, apesar de fazer acenos ao Ministério da Fazenda, repetiu que não vai hesitar em “retomar o ciclo” de alta da Selic caso a inflação não caia e citou por duas vezes no texto que a condução da política monetária exige “paciência e serenidade”.

“O Copom enfatizou que a execução da política monetária, neste momento, requer serenidade e paciência para incorporar as defasagens inerentes ao controle da inflação através da taxa de juros e, assim, atingir os objetivos no horizonte relevante de política monetária”, cita o texto. Realizada na semana passada, a reunião do Copom terminou com a manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, a despeito das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do governo. Lula argumenta que a manutenção da atual Selic representa o fator preponderante para o atual baixo crescimento da economia.

Em outra passagem da ata, vista no mercado como um aceno ao governo, o BC fala que a apresentação de uma proposta “crível” de nova âncora fiscal – em substituição ao atual modelo de teto de gastos – pode ter efeito positivo sobre as expectativas da inflação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a nova proposta deve ser apresentada ainda nesta semana.

Os integrantes do Copom afirmaram ainda que o compromisso da equipe econômica com a execução de pacote fiscal que estabeleceu, entre outras medidas, a volta dos impostos federais (PIS/Cofins) sobre os preços da gasolina ajuda a atenuar os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta da inflação no curto prazo.

Na ata, o comitê voltou a destacar a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos e, mais uma vez, citou a possibilidade até de voltar a aumentar a Selic. Para garantir que cumpra a tarefa de entregar a inflação na meta, após dois anos de fracasso e caminhando para o terceiro sem atingir o objetivo, o Copom argumentou que a desaceleração econômica atual é necessária para garantir o sucesso dessa missão.

Conforme a ata, os dados de atividade no Brasil seguem indicando um ritmo de crescimento mais moderado, e os dados de emprego sugerem moderação.

Para Haddad, Banco Central precisa “ajudar” economia a crescer

Em resposta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça que o Banco Central precisa “ajudar” a garantir o crescimento da economia com inflação baixa.

“O Banco Central também tem de nos ajudar, é um organismo que tem dois braços, um ajudando o outro. Eu sempre insisto nessa tese de que dá impressão de que um é espectador do outro, e não é assim que a política econômica tem de funcionar. São dois lados ativos concorrendo para o mesmo propósito, que é garantir crescimento com baixa inflação. E isso só é possível pela harmonização da política fiscal com a monetária”, disse o ministro.

Como uma resposta às críticas que vem recebendo do governo de olhar apenas para a inflação e não cuidar dos objetivos relacionados à atividade, o Copom reforçou que a harmonia entre as políticas monetária e fiscal reduz distorções, diminuindo a incerteza, facilitando o processo de desinflação e fomentando o pleno emprego ao longo do tempo.

*Com informações do jornal O Estado de S.Paulo