Ataques em escolas no País mataram 35 alunos e professores até 2022, revela relatório

Foram registrados 16 ataques a escolas de 2000 a 2022, quatro deles no segundo semestre do ano passado

Foto: Divulgação/R7

Um relatório apresentado durante os trabalhos de transição do governo federal em dezembro passado indica que 35 estudantes e professores morreram em ataques a escolas no Brasil desde o início dos anos 2000. Antes disso, não havia relatos de casos de violência em escolas no País. Segundo o documento, divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo, os ataques praticados por alunos e ex-alunos “são normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem”.

Nesta segunda-feira, houve mais uma morte: a da professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos, esfaqueada por um aluno de 13 anos de uma escola estadual da Vila Sônia, na zona Oeste de São Paulo. Outros três docentes e um estudante foram feridos e o garoto, apreendido. A motivação ainda é investigada.

O documento defende que os profissionais da educação sejam capacitados para identificar alterações de comportamento dos jovens e fatores psicológicos capazes de levar a crimes desse tipo. Cita ainda que é preciso ficar atento a “interesse incomum por assuntos violentos e atitudes violentas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, agressividade e uso de expressões discriminatórias, e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos”.

Além disso, “é imprescindível um trabalho pedagógico em educação crítica da mídia e de combate à desinformação” e a presença permanente de psicólogos nas escolas, o que não é comum nas redes públicas de ensino.

A tabulação dos casos indica que, desde o início do ano 2000 até 2022, houve 16 ataques a escola no Brasil, quatro deles no segundo semestre do ano passado. Além das 35 mortes, 72 pessoas tiveram lesões. Nos Estados Unidos, onde o número de casos é o maior do mundo, foram 554 vítimas ao todo, 185 mortos e 369 feridos em ataques violentos à escolas nesse mesmo período. O relatório cita números tabulados pelo jornal The Washington Post até maio de 2022, que contabiliza 331 escolas atacadas e 311 mil crianças em idade escolar afetadas pelos tiroteios ou expostas a violência armada no país.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse acompanhar o caso com “consternação”, manifestou solidariedade e disse que o ministério está à disposição das autoridades locais para colaborar. Procurado, o Ministério da Educação (MEC) informou que desde o inicio do governo, trabalha no desenho de uma política de melhoria do clima e da convivência escolar e de fortalecimento de ações intersetoriais para o diagnóstico e tratamento das questões relacionadas à violência.

O relatório intitulado relaciona a alta de casos de violência em escolas ao “processo de cooptação pela extrema direita” em “interações virtuais, em que o adolescente ou jovem é exposto com frequência ao conteúdo extremista difundido em aplicativos de mensagem, jogos, fóruns de discussão e redes sociais”.

Em vários dos casos de violência, há associação com símbolos neonazistas, que aparecem com cada vez mais frequência em escolas e universidades. Em Aracruz (ES), onde três professoras e uma aluna morreram no ano passado, o atirador usou uma suástica. Sobre o ataque desta segunda na Vila Sônia, ainda não se sabe se houve inspiração desse tipo.

Entre os meios de cooptação, conforme o relatório, estão o “uso de jogos online como Roblox, Fortnite, Minecraft; uso de imagens de ataques e compartilhamento de manifestos de atiradores como método de propaganda.”