Ibovespa perde fôlego e cai abaixo dos 100 mil pontos pela 1ª vez desde julho de 2022

Varejistas tiveram maiores quedas, puxadas pela sinalização do Copom, no dia anterior, de haver pouco espaço para corte de juros no país

Foto: Arquivo

O Ibovespa perdeu o fôlego, nesta quinta-feira, e trabalhou abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez em nove meses. Às 12h11min, o índice de referência da bolsa de São Paulo, a B3, caía 0,47%, a 99.747,83 pontos, um dia após o Banco Central (BC) sinalizar, no dia anterior, haver pouco espaço para corte de juros no país. O movimento teve as varejistas Magazine Luiza e Via entre as maiores quedas, pela manhã.

Um pouco mais cedo, o Ibovespa chegou a 101.125,76 pontos, endossado por Wall Street e refletindo ajustes. A queda se acentuou no início da tarde: às 14h10min, o índice caía para 98.739,67 pontos, uma retração de 1,48%.

Nessa quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano, reforçando que vai “perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional”.

Além dos reflexos no custo do dinheiro, o posicionamento da autoridade monetária corrobora o receio de um acirramento da tensão entre o governo e o banco, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria a redução da Selic e vinha pressionando a instituição.

“No mercado, há a percepção de que a temperatura esquentará ainda mais entre o presidente Lula e o BC, com mais troca de farpas, pressão e críticas, o que pode contaminar o cenário”, falou o superintendente da Necton/BTG Pactual, Marco Tulli.

“As medidas recentes do governo vão contra o movimento feito pelo Copom, que foi mais duro do que o governo esperava”, acrescentou. O comunicado do BC reforçou a visão de grandes bancos, de que reduções na Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só para o fim desse período.

Para o economista-chefe da Mirae Asset Wealth Management (Brazil) CCTVM, Julio Hegedus Netto, é inevitável o escalonamento das tensões entre a instituição e o Executivo, conforme relatório enviado a clientes nesta quinta.

“Havia um debate em torno de como o BCB iria responder às ‘demandas’ do governo. Se cedesse, sinalizando redução da Selic neste ano, poderia mostrar perda de autoridade, e se mantivesse uma conduta mais ‘hawkish’ [comportamento agressivo, incisivo; na economia, indica postura de combate à inflação pelo aumento dos juros], como acabou ocorrendo, seria interpretado como intransigente na defesa da autonomia e atuação como ‘guardião da moeda’. Optou pela segunda opção.”

Hegedus Netto acrescentou que “a impressão que se tem é que, nesta escalada, quanto mais o governo ‘protestar’ contra a política de juros, mais o BC deve endurecer, isso, claro se piorarem as expectativas fiscais e inflacionárias”.

Ele avalia que a ‘paz’ pode ser estabelecida se houver um avanço concreto no encaminhamento do ajuste fiscal, e um arcabouço fiscal consistente e abrangente.

A partir daí, então, é que veremos um alívio de fato”, afirmaram Fábio Perina e equipe do Itaú BBA, em relatório. Para abandonar a tendência de baixa, o Ibovespa precisa ultrapassar os 106.700 pontos, disseram.

Nos Estados Unidos, Wall Street tinha uma sessão positiva, o que endossou os ganhos no pregão brasileiro mais cedo.