MST, joias sauditas, apuração sobre o 8/1: Congresso tem fila de pedidos de CPI

Parlamentares querem abrir Comissões Parlamentar de Inquérito para investigar atos da atual e da ex-gestão da Presidência

Foto: Pedro França/Agência Brasil

Desde o início da atual legislatura, o Congresso Nacional recebeu requerimentos para a abertura de ao menos 10 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). O instrumento próprio do Legislativo serve para fiscalizar a administração pública e tem poderes de investigação equiparados aos das autoridades judiciais, como determinar diligências, ouvir indiciados, interrogar testemunhas, entre outros.

Para que as CPIs possam ser instaladas, é necessário cumprir algumas etapas:
• primeiro, os parlamentares têm de determinar um fato a ser apurado, o número de membros, o prazo de duração da comissão e o limite das despesas a serem realizadas
• em seguida, eles precisam conseguir as assinaturas de um terço dos colegas (27 no Senado e 171 na Câmara dos Deputados)
• na sequência, cabe ao presidente da respectiva Casa ler o requerimento da CPI no plenário

A maioria dos pedidos de instauração de CPI quer investigar os atos ocorridos em 8 de janeiro deste ano, quando os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos e depredados por vândalos. Há iniciativas tanto na Câmara quanto no Senado para que o colegiado seja criado.

Um dos primeiros requerimentos foi entregue pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS). A parlamentar quer a criação da CPI para apurar a responsabilidade pelos atos antidemocráticos, eventuais omissões cometidas por administradores públicos federais, estaduais e municipais no controle da segurança e a existência de financiadores e difusores deste e de outros movimentos semelhantes.

Ela recolheu mais do que as 27 assinaturas mínimas exigidas pelo regimento interno da Casa para que o pedido fosse apresentado. A única etapa que falta para a criação da comissão é a leitura do requerimento pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o que não aconteceu passados dois meses dos ataques. Diante da demora, Soraya acionou o STF e pediu que Pacheco seja obrigado a instalar a CPI.

Ao menos outros dois pedidos buscam a abertura de uma comissão para investigar os episódios de 8 de janeiro. Um deles foi elaborado pelo deputado Evair de Melo (PP-ES), que quer apurar as responsabilidades do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, visto que ele teria sido informado previamente sobre a possibilidade de manifestações violentas e ainda assim não impediu os atos.

Já o deputado André Fernandes (PL-CE) solicitou a abertura de uma CPI mista, com a participação de deputados e senadores. Ele também destaca que o Executivo teria sido avisado antecipadamente de que os episódios de violência poderiam acontecer e que isso precisa ser analisado.

Crise yanomami e MST

Outro alvo dos pedidos de CPI dos parlamentares é a crise humanitária no território yanomami, em Roraima, que está sob estado de emergência em saúde pública após uma série de mortes de indígenas causadas por desnutrição e desidratação.

O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) solicitou a abertura do colegiado para investigar as condutas comissivas e omissivas de agentes públicos de órgãos do Executivo federal no território entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022.

O deputado José Nelto (PP-GO) também entregou um requerimento para a criação de uma CPI para investigar o caso “diante dos fortes indícios de violação do núcleo essencial dos direitos fundamentais à vida, à saúde e à segurança dos povos indígenas”.

Já o deputado Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS) pediu a abertura de CPI para apurar as ações e invasões recentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Segundo ele, o objetivo da comissão é investigar os atos do movimento em locais com produção ativa. Na semana passada, por exemplo, três fazendas da produtora de papel e celulose Suzano foram invadidas pelo MST na Bahia.

O deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) também entregou um requerimento de CPI do MST. “É preciso frear as ações criminosas do MST e apurar as responsabilidades pela invasão, bem como aferir se todas as autoridades agiram de acordo com a lei ou foram lenientes a fim de privilegiar o movimento.”

Ativismo judicial, joias sauditas e Americanas

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) tem buscado a abertura de uma CPI para investigar eventuais abusos de autoridade por parte de ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No ano passado, ele tinha apresentado o pedido de instalação do colegiado. Contudo, a comissão não foi aberta por não haver tempo hábil.

Entretanto, ele retomou o pleito neste ano. Segundo o deputado, “nos últimos meses, foram inúmeras as violações de direitos e garantias individuais contra cidadãos brasileiros, políticos e também contra pessoas jurídicas, perpetradas por ministros das cortes superiores, justamente aqueles que teriam o dever de garantir o pleno exercício desses direitos e não de violá-los”.

Há ainda um requerimento de CPI para o episódio das joias apreendidas pela Receita Federal que seriam um presente do governo da Arábia Saudita para o governo brasileiro durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Outro pedido quer a instalação de um colegiado para investigar o caso das Lojas Americanas, que está em recuperação judicial após ter revelado em janeiro um rombo contábil de R$ 20 bilhões.