Amazônia já tem maior desmate para o mês de fevereiro desde 20

Volume de desmatamento chegou a 209 km² no período

Foto: Carl de Souza / CP Memória

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, apontam que os alertas de desmatamento na Amazônia Legal identificados entre os dias 1 e 17 de fevereiro já representam o pior índice para mês desde o início da série histórica, iniciada em 2015.

Segundo as informações do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), o volume de desmatamento chegou a 209 km² no período, ante 199 km² verificados em fevereiro do ano passado. O volume é quase o dobro da área desmatada no mesmo mês de 2015, por exemplo, quando o sistema captou 115 km² de devastação.

A Amazônia Legal é uma área que corresponde a 59% do território brasileiro e engloba oito Estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – e parte do Maranhão.

Em janeiro, o número do desmatamento tinha registrado forte queda em relação ao mesmo mês dos anos anteriores. Foram 167 km² em janeiro de 2023, diante de 430 km² em janeiro de 2022. Os especialistas apontam que fatores como forte incidência de chuvas podem ter influência nos dados, além das ofensivas contra os crimes que assolam as florestas. Apontam também a necessidade de pelo menos quatro meses para avaliar o efeito das ações anunciadas pelo governo nas taxas de devastação florestal.

Os alertas do sistema Deter servem como bússola para a questão do desmatamento, indicando áreas mais devastadas e orientando ações de órgãos como o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, avalia que no momento as primeiras medidas foram tomadas pelo nova gestão federal, mas que o resultado demanda tempo. “O novo governo retomou formalmente o Fundo Amazônia e o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), está tomando todas as medidas necessárias para a operacionalização desses instrumentos e, principalmente, reforçou as ações de fiscalização”, afirmou.

Segundo ela, os dados tornados públicos são graves, por mostrarem uma alta expressiva em um mês chuvoso, em que a cobertura de nuvens tende a ser alta e a esconder o desmate. “Evidenciam uma situação extremamente grave deixada por quatro anos do governo (Jair) Bolsonaro, período que teve a maior alta porcentual de desmatamento da história. A reversão de tamanho descontrole não se faz de um dia para o outro. O momento agora é de reconstrução da política pública, o que será acompanhado de perto pela sociedade civil.”

Na semana passada, em entrevista ao Estadão, o novo presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou que a meta do governo é reduzir, pela metade, o índice de desmatamento verificado no ano anterior. Agostinho disse que o Ibama voltou a atuar, após anos de paralisação durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), mas é preciso recuperar a estrutura do órgão, que foi esvaziada. O Ibama já chegou a ter 2 mil fiscais em campo. Atualmente, conta com menos de 350 agentes.

Para Carlos Bocuhy, presidente do PROAM – Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, a Amazônia vive uma queda de braço entre a criminalidade generalizada e a nova força-tarefa do governo. O Ibama informou, na noite de quinta-feira, que a base instalada na aldeia Palimiú, terra indígena Yanomami, em Roraima, foi atacada. Homens armados furaram o bloqueio no Rio Uraricoera e atiraram em agentes. Os fiscais revidaram. Um garimpeiro ferido foi detido pela PF, mas outros fugiram.