BC mantém juros básicos em 13,75% pela terceira vez seguida

Manutenção da Selic em maior patamar desde 2017 ocorre em meio a pressão do governo e projeções de piora da inflação

Foto: ABr

Com piora nas expectativas do mercado financeiro para a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (Bacen), decidiu nesta quarta-feira manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. Foi a primeira reunião do colegiado sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu em janeiro.

É a terceira vez consecutiva que esse patamar de juros é mantido, o maior desde o início de 2017. A taxa chegou a esse nível em agosto, após o ciclo de aperto monetário mais longo da história do Copom.

“O ambiente externo segue marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano, alta volatilidade nos ativos financeiros e um ambiente inflacionário pressionado, embora com sinais mais positivos na margem. A política monetária nos países avançados em direção a taxas restritivas e a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais requerem maior cuidado por parte de países emergentes”, sustenta o relatório do Copom.

A decisão ocorre em meio às críticas do presidente Lula e de ministros do governo ao atual patamar da Selic, índice que baliza todos os empréstimos do país. Lula também já reclamou publicamente da atual meta de inflação, que disse considerar baixa.

A Selic fica vigente até o fim de março, quando os diretores do BC voltarão a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.

A reunião começou na terça-feira, com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os diretores da autoridade monetária. Foram feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia e o comportamento do mercado financeiro. Nesta quarta, o comitê projetou as possibilidades futuras e definiu a nova Selic.

No último encontro, quando manteve a Selic em 13,75% ao ano, o Copom afirmou que o ambiente inflacionário continua desafiador e garantiu que não vai hesitar em retomar o ciclo de ajuste dos juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Segundo analistas do mercado financeiro consultados semanalmente pelo BC, o avanço das expectativas para a inflação mostra um período mais prolongado dos juros elevados, com a taxa em 12,5% ao ano, ao fim deste ano, e de 9,5% ao ano, em dezembro de 2024.

Saiba mais
A Selic é conhecida como taxa básica porque é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Em linhas gerais, a Selic é a taxa paga pelos bancos para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimo ou financiamento. Por esse motivo, os juros cobrados pelos bancos são sempre superiores à Selic.

A taxa básica também serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito e reduzem a disposição para consumir, estimulando outras alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito, estimulando a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.