Haddad: gasoduto de Vaca Muerta não vai precisar de financiamento

Ambientalistas dizem que projeto gera alto impacto ambiental

Foto: Rovena Rosa/ABr

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje em São Paulo que as obras do gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina, não deverão precisar de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“Acho que em alguns casos específicos, como é o caso do potássio e como é o caso do gás argentino, (há razão em) a gente pensar em parcerias que somem pelos dois países sem criar nenhum tipo de conflito, até porque são projetos sustentáveis do ponto de vista econômico e que eventualmente nem devem precisar de financiamento público. Acho que Vaca Muerta mesmo é um projeto que talvez dispense esse tipo de financiamento”, disse o ministro, que participou hoje de uma reunião com diretores da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).

Haddad disse já ter conversado com o setor químico e assim concluído que não deve faltar demanda para o gás argentino. “Com a queda da produção de gás da Bolívia, não vai faltar demanda de gás no Brasil, mesmo que a gente não desperdice mais o gás do pré-sal”, completou o ministro.

A construção do gasoduto entre as reservas de gás xisto (shale) da reserva de Vaca Muerta até o Brasil pautou um encontro entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em Buenos Aires. Após o encontro, Lula comentou sobre a possibilidade de o BNDES financiar obras desse projeto. “De vez em quando no Brasil somos criticados por pura ignorância, pessoas que acham que não pode haver financiamento de engenharia para outros países. Acho que não só pode como é necessário o Brasil ajudar todos os seus parceiros. E é isso que vamos fazer dentro das possibilidades econômicas do nosso país. O BNDES é muito grande”, disse o presidente, na ocasião, ressaltando, no entanto, que acredita no interesse de empresários brasileiros por essa obra. “Se há interesse dos empresários, do governo e temos um banco de desenvolvimento para isso, eu quero dizer que vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente tiver que fazer para ajudar ao gasoduto argentino”.

O projeto de construção de Vaca Muerta se tornou alvo de ambientalistas, que dizem que a obra vai ter alto impacto ambiental. Segundo eles, o gás natural é um combustível fóssil que apresenta alto potencial de aquecimento climático, já tendo sido banido em diversos outros países do mundo. “O método para obtenção de gás de xisto é internacionalmente reconhecido por altos riscos e fortes impactos ambientais. Consiste em processo de extração de gás por meio de fragmentação de rochas para liberação dos hidrocarbonetos, provocando a contaminação dos aquíferos sendo, portanto, alternativa de extração de gás ambientalmente inadequada e já banida em países mais progressistas”, cita um documento encaminhado ao BNDES e a ministros do governo Lula.

Aos diretores da Fiesp, Haddad admitiu que essa questão ambiental não pode ser deixada de lado. “Tem uma discussão ambiental que não deve ser desconsiderada sobre a utilização de gás de xisto, mas pelos relatos que recebi, os norte-americanos resolveram de uma maneira diferente do resto do mundo e com preocupação ambiental”, disse ele.

Reforma tributária
Em reunião na Fiesp, o ministro da Fazenda falou também sobre a reforma tributária. Ele disse esperar que o Congresso “volte a abraçar” essa questão assim que acabar a eleição para a escolha dos novos presidentes do Senado e da Câmara Federal. Segundo ele, o novo governo vai priorizar as agendas fiscal, regulatória e de crédito nos próximos meses. “Vejo uma enorme oportunidade. Primeiro, na agenda fiscal, que vem a ser a aprovação da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal que já vai pacificar o Brasil”, disse o ministro.

Haddad falou sobre esse tema após ser cobrado pelo presidente da Fiesp, Josué Gomes, que criticou as altas taxas de juros do Brasil, tanto da taxa básica de juros (Selic) quanto dos spreads bancários. “Nessas últimas quatro décadas, a indústria de transformação vem perdendo espaço na economia. E não foi porque o empresário industrial brasileiro não tenha coragem, disposição ou capacidade de trabalho. Infelizmente, o Brasil foi criando condições inóspitas para o crescimento da indústria de transformação. Sem esse crescimento da indústria, o Brasil também deixou de crescer. Estamos há quatro décadas patinando”, disse Gomes.

Para o presidente da Fiesp, o governo precisa reduzir a carga tributária do setor. “Se o senhor [ministro] decidir baixar as alíquotas da indústria de transformação, o senhor poderá obter sucesso e a indústria vai recuperar para o senhor, em dobro, qualquer potencial de perda de arrecadação”, disse o dirigente.