No Uruguai, Lula defende urgência em acordo Mercosul-China e fala em destravar tratado com UE

Presidente brasileiro se encontrou com colega Lacalle Pau, que reiterou intenção de negociar direto com Pequim

Foto: Ricardo Stuckert/R7

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que “é possível” discutir a adoção de um acordo de livre comércio entre a China e o Mercosul, bloco econômico que engloba Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Lula viajou nesta quarta para Montevidéu, no Uruguai, onde se reuniu com o presidente do país, Luis Lacalle Pou. O objetivo da visita era discutir o fortalecimento do Mercosul, diante das negociações avançadas entre Uruguai e China para o estabelecimento de um acordo comercial independente entre os dois países. Caso sejam oficializadas, essas negociações podem pôr em xeque a Tarifa Externa Comum do Mercosul.

Para o presidente brasileiro, antes de uma aproximação com a China é preciso destravar a ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Aprovado em 2019, após 20 anos de negociações, esse acordo comercial precisa ser ratificado pelos parlamentos de todos os países dos dois blocos para entrar em vigor. No entanto, diversos países europeus suspenderam a aprovação do acordo, o que vai exigir novas negociações.

Depois de lembrar a relação positiva que o Brasil teve com o Uruguai ao longo dos mandatos petistas, Lula afirmou que, agora, recebeu um “país semidestruído” e disse ser preciso “trabalhar junto” para o crescimento da região. Ele também reconheceu a necessidade de abrir mais o comércio bilateral.

“O que precisamos fazer para modernizar o Mercosul? Primeiramente, queremos sentar à mesa com nossos técnicos, depois com nossos ministros e finalmente com os presidentes para que a gente possa renovar aquilo que for necessário renovar”, prometeu Lula.

Uruguai reitera posição sobre negociação com a China

Já o presidente do Uruguai reiterou a disposição de flexibilizar o Mercosul e de manter as negociações por um acordo comercial com Pequim. “O Uruguai vai avançar nas suas negociações com a China. O Brasil pode paralelamente fazer seu caminho e após isso vamos compartilhar tudo o que foi negociado. E o Uruguai pode se ajustar com aquilo que o Brasil propuser. O Brasil pode dizer o que conseguiu negociar com a China”, afirmou após a reunião com Lula. “Para resumir, o Mercosul que queremos precisa ser moderno, flexível e aberto ao mundo”, acrescentou.

Lacalle Pou disse ainda que teve com Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma reunião intensa e extensa, mas desprovida de ideologias e sem briga. “Nós poderíamos ter brigado, mas não fizemos isso. Simplesmente marcamos algumas diferenças dos pontos que nós queremos para poder avançar, principalmente o relacionamento entre o Uruguai e Brasil como membros do Mercosul”, destacou o líder uruguaio, que é de centro-direita. “Dissemos quais são os interesses de nossos povos, de nossos países. Sempre tentamos que interesses de nossas nações coincidam.”

Lacalle Pou afirmou que vai criar um grupo técnico para discutir o impasse com o Mercosul.

Outras negociações

A possibilidade de tornar o Aeroporto de Rivera um terminal internacional também chegou a ser citada na reunião, assim como a necessidade de melhorar a balança comercial. O Uruguai também defende a ampliação da ponte que liga as cidades de Jaguarão, no lado brasileiro, e Rio Branco, no lado uruguaio.

Por último, Lacalle Pou falou sobre a criação de uma hidrovia na Lagoa Mirim e na Lagoa dos Patos. Para isso, é preciso realizar a dragagem do canal no lado brasileiro.

Nesta tarde, Lula também participa de uma cerimônia na prefeitura de Montevidéu, onde recebe a medalha Más Verde, em reconhecimento aos esforços em defesa do meio ambiente. Após a entrega do prêmio, ele visita pessoalmente o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, na chácara dele, nos arredores da capital uruguaia.

A previsão é de que a comitiva de Lula deixe Montevidéu logo após esse compromisso, com destino a Brasília. Desde que assumiu a Presidência da República, Lula visitou dois países. De domingo a terça-feira, ele esteve na Argentina, onde se reuniu com o presidente Alberto Fernández e participou da 7ª cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).