A chuva desse final de semana trouxe, além do refresco temporário aos dias anteriores de extremo calor, também algum alento à população dependente do abastecimento dos rios da região Metropolitana. Longe, porém, de resolver a situação da estiagem, cursos d’água como o Guaíba, Gravataí e Sinos, ainda estão muito abaixo do que é considerado ideal, justificando a atenção constante por parte dos gestores públicos e das comunidades em geral.
No Guaíba, a precipitação de 5,8 milímetros no sábado, algo que não acontecia há nove dias, ajudou a elevar o nível de 30 para 47 centímetros em questão de sete horas. No entanto, mais uma vez, a régua da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) no Cais Mauá, no Centro Histórico, voltou a registrar 32 centímetros na manhã deste domingo. O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) segue informando que não há problemas no abastecimento, e programa atividades pontuais dentro de Porto Alegre entre terça e a próxima quinta-feira.
A possibilidade de eventuais falhas na captação de água preocupa a população da zona Sul e Extremo Sul da Capital, em razão não apenas da falta de chuvas consistentes, mas da movimentação dos ventos, que empurram a vazão na direção da Lagoa dos Patos. Além do mais, o mais recente aviso do Dmae sobre possíveis problemas no abastecimento, e causados pela estiagem, é datado de 11 de janeiro. Conforme o órgão, para manter o serviço a pleno, o normal é que o Guaíba esteja acima de 80 centímetros, algo que não é atingido desde a noite de 17 de dezembro de 2022.
No rio Gravataí, cidades como Gravataí, Cachoeirinha e Alvorada já emitiram avisos à população para observar o consumo de água por parte da Corsan. Em Gravataí, a Prefeitura afirma que está “cobrando medidas da Corsan e do governo do Estado”, na esteira da descoberta de ao menos uma captação irregular de água para uma fazenda arrozeira no distrito de Águas Claras, em Viamão. A cota na régua da Sema no Balneário Passo das Canoas, popular destino de lazer em Gravataí, apresentou certo aumento com a chuva de 15,8 milímetros no local no último sábado.
O nível subiu em 50 centímetros, de 38 para 78, em um período de 17 horas, entre a tarde de ontem e a manhã de hoje, e ainda seguia em elevação. Este volume de precipitação em tempo tão curto não havia sido registrado em nenhum momento nos últimos seis meses, pelo menos, conforme os gráficos disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA). Para se ter uma ideia, por exemplo, choveu em alguns minutos quase o mesmo montante de todo o mês de fevereiro do ano passado (16,2 milímetros).
Em Alvorada, na Estação de Tratamento de Água (ETA) da Corsan, não foi diferente. Choveu 8,6 milímetros na tarde de ontem, algo inédito desde julho do ano passado, o que elevou os níveis de 48 para 92 centímetros. Com isso, em ambos os pontos, o nível do Gravataí subiu aos mesmos níveis do último dia 8 de janeiro. No entanto, em Alvorada, ainda está abaixo da cota crítica, o que deve fazer com que a Sema prossiga com as captações distintas ao abastecimento humano, ainda que haja outorga de uso e licenças ambientais em dia.
Já no rio dos Sinos, a régua da ANA no Centro de São Leopoldo apontou 23,4 milímetros de chuva em menos de uma hora, algo igualmente inédito no mesmo período de meio ano, fazendo com que o nível mais que dobrasse em nove horas, registrando 43 centímetros às 10h e 1,01 metro às 19h. No entanto, como a vazão também foi alta, na manhã de domingo novamente houve queda para 57 centímetros. De toda forma, choveu 6,6 milímetros na foz do rio Paranhana, em Taquara, o que ajudou na elevação do Sinos.
Em Novo Hamburgo, está em andamento a campanha “Toda Gota Importa” por parte da Companhia Municipal de Saneamento (Comusa). “Todo ano enfrentamos longos períodos de estiagem na nossa região. Mas nunca deixamos de abastecer Novo Hamburgo por conta da estiagem”, afirma o diretor-geral da autarquia municipal, Márcio Lüders. No município, o nível do rio alcançou 2,43 no começo da manhã deste domingo.
Todas as segundas-feiras, a Sala de Situação do RS, vinculada ao governo do Estado, divulga nova edição do informativo especial de estiagem, acompanhando a situação da seca em todo o Rio Grande do Sul e as perspectivas para o futuro imediato. Nas sextas, é a vez do Boletim Hidrometeorológico Semanal, que, além destas projeções, faz um balanço da condição destes locais, baseando-se no que seria o normal de vazão dos rios e o que realmente eles apresentam.
Ainda não há uma tendência clara de quanto deveria chover para os rios da região Metropolitana para melhorar os níveis dos cursos d’água, segundo a Sala de Situação. Já para a região Norte gaúcha, estão previstos 40 milímetros de precipitação nesta semana, o que poderá fazer com que os rios “apresentem resposta às precipitações”. Para a Grande Porto Alegre, existe um longo caminho para que o Gravataí, Sinos, Guaíba, Baixo Jacuí e Caí normalizem sua situação.
Questionado sobre quanto deveria chover para isto, o órgão aponta que não existe esta estimativa, ao menos na atual conjuntura. “Um evento com volumes elevados, de mais de 70 milímetros por dia, que englobasse as bacias, poderia retirar momentaneamente os rios destas regiões dos limiares críticos. Vale ressaltar que esta condição não se manteria por muitos dias, por conta do déficit hídrico em que estas bacias se encontram”, afirma o órgão.