Acusada de matar o filho, Rafael Mateus Winques, em maio de 2020, Alexandra Salete Dougokenski prestou depoimento nesta quarta-feira no Salão do Júri da Comarca de Planalto, no Norte do Estado. Ao contrário do que disse em juízo, a ré, que é acusada de quatro crimes, homicídio qualificado, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual, afirmou que o ex-marido Rodrigo Winques esteve em sua residência na madrugada do crime. Após 2 horas e 20 minutos, a juíza de Direito, Marilene Parizotto Campagna, que preside o júri, interrompeu o depoimento para intervalo para o almoço. A sessão será retomada às 13h30.
Durante o depoimento, ela acusou o ex-marido da morte do filho e o chamou de assassino. “Naquela madrugada, sem que ninguém imaginasse, nossa vida ia ser destruída”, destacou. Conforme Alexandra, por volta das 2h do dia 15 de maio, um carro parou em frente à sua casa. Em seguida, Rodrigo e outra pessoa teriam entrado na residência em busca de Rafael. “Escutei barulho na porta e saí do meu quarto para ver quem estava mexendo na porta. Liguei a luz de fora e vi que era o Rodrigo. Abri a porta, e ele pediu para desligar a luz de fora”, frisou.
De acordo com Alexandra, a pessoa que estava junto com Rodrigo teria pedido uma sacola para colocar na cabeça de Rafael para evitar que o menino soubesse para onde seria levado. “Quando vi, o Rodrigo tirou uma corda de dentro da jaqueta preta”, destacou, lembrando que não conseguia se aproximar do filho porque o outro homem a impedia. “Ele estava de máscara. Tirou a corda e começou a tentar amarrar os braços do meu filho, que se mexia muito”, acrescentou. Em seguida, Rafael teria caído ao chão.
“A pior lembrança foi quando ele começou a amarrar meu filho, que estava sentido que ia morrer, e começou a gritar, a se debater, e dizia ‘não pai, para pai’, foi o único momento que meu filho chamou ele de pai, porque ele nunca chamou ele de pai. O Rafael começou a se debater muito e logo em seguida parou”, afirmou. O ex-marido teria encontrado uma caixa, onde o corpo do menino foi colocado. “Ele e outro cara foram embora dali”, frisou. Após o crime, ela relatou receber ameaças do ex-marido. “Disse que ia matar toda a minha família”, afirmou.
Durante o depoimento, ela afirmou que decidiu indicar onde estava o corpo por não suportar mais a dor da perda do filho e perceber o sofrimento da família. “O Anderson estava definhando nos últimos dias, não comia, não dormia. Minha mãe estava desesperada. Decidi falar para acabar com sofrimento deles”, afirmou. Conforme Alexandra, durante o interrogatório da Polícia Civil, no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, ela teria sido coagida a assumir o crime.
Conforme a ré, os delegados Ercílio Raulileu Carletti, que coordenou as investigações sobre o caso em Planalto, e o diretor da Divisão de Homicídios do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, Eibert Moreira Neto, a teriam pressionado para admitir o crime. “Fizeram entrar numa sala com eles. Naquele dia, naquela sala houve muito constrangimento”, acusou. “Eles relataram o que eu ia falar naquele dia porque queriam dar o caso por encerrado”, completou.
Segundo a ré, os delegados teriam insistido para que ele desconstituísse os advogados de defesa. “Disseram que se eu não falasse o que estavam dizendo, seria autorizado por juiz para eu ser colocada num manicômio onde eu nunca mais ia ver meu filho e minha família, ia ficar abandonada para sempre até morrer”, afirmou. Ao falar do relacionamento de 11 anos com Rodrigo, Alexandra disse que viveu um casamento abusivo e relatou ocasiões em que foi agredida com socos pelo ex-companheiro.