Com o depoimento de uma perita criminal, o segundo dia do júri do Caso Rafael se encerrou, no início da noite desta terça-feira, no Norte gaúcho. A fase de oitivas de testemunhas e informantes terminou. Ao longo do dia, passaram pelo salão do Júri do Foro da Comarca de Planalto familiares da mãe do menino, Alexandra Dougokenski, acusada de matar a criança, o pai e uma professora de Rafael. Nesta quarta-feira, o julgamento vai ser retomado, a partir das 8h30min, com o interrogatório da ré.
Ao depor, Rodrigo Winques, pai da vítima e apontado pela ex-companheira como o autor do crime, disse que Alexandra quer ‘se livrar’ das acusações. Ele afirmou que sempre teve boa relação com o enteado Anderson e negou as acusações de abuso sexual, feitas pelo jovem, mais cedo, no plenário.
Na mesma sessão, a professora Ladjane Ravagio, que deu aula por um ano para a vítima, declarou que o menino parecia ‘sempre bem cuidado’ e era muito ligado à mãe.
Isailde Batista, mãe de Alexandra Dougokenski, declarou considerar que a filha é “uma mãezona” e disse não acreditar que ela tenha sido capaz de matar o filho. Segundo a idosa, Rafael se referia ao pai, Rodrigo, como “demo, demônio”.
Depoimento do tio
Alberto Moacir Cagol, tio de Rafael, disse que Alexandra, irmã dele, era muito respeitada pelos filhos. “Era um grude. A mana buscava ele na escola, não deixava o piá sozinho”, afirmou.
Já em relação a Rodrigo, Alberto reiterou que o menino se referia ao pai como “demo” e dizia que preferia morar em ‘uma casa de passagem’ do que passar a viver com ele.
Alberto lembrou que os cães farejadores usados pela polícia nas buscas ao menino não identificaram o corpo, encontrado no terreno vizinho à casa da família, o que achou estranho. Também disse que ele mesmo chegou a verificar a caixa onde o corpo veio a ser posteriormente localizado, dizendo que havia nela digitais de outras pessoas da família, como as dele e da avó do menino – não só as de Alexandra.
Para Alberto, a irmã não tinha motivação aparente para matar o filho. Ele disse ainda que, mesmo desesperada, Alexandra não saía para fazer buscas ao filho desaparecido. O homem se negou a responder as perguntas do Ministério Público.
Perita
A perita do Instituto Geral de Perícias (IGP/RS), Bárbara Cavedon, participou da reprodução simulada dos fatos, cerca de um mês após o crime, quando Alexandra narrou o que, na versão dela, aconteceu na noite da morte do menino.
Para o procedimento, os agentes usaram um boneco com peso aproximado ao de Rafael – cerca de 40 kg. Alexandra não conseguiu carregá-lo, por estar debilitada, e o delegado acabou executando os movimentos, conforme a narrativa da ré.
A perita explicou que havia uma distribuição corporal do peso do boneco, diferente da de um ser humano normal, e que ele também era mais rígido. “Ela tinha passado mal durante a custódia, e sido medicada. Tomei o cuidado de falar com o médico que a atendeu para verificar quais substâncias tinham sido dadas a ela, se isso teria algum impacto na reprodução”, lembra.
Bárbara coletou a versão de Alexandra e do filho mais velho dela, Anderson, em casa naquela noite. Posteriormente, houve a reprodução simulada. “Comparamos essa versão com todos os outros vestígios que passaram pela perícia, como exames de laboratório, necropsia, etc. Todas as informações que Alexandra nos trouxe foram comparadas com todos esses outros exames”, explicou. A perita relatou que, durante a simulação, a mulher não citou o nome do marido, Rodrigo.
Já Anderson não participou da reprodução, segundo a perita. Bárbara explicou que o jovem atuou só na primeira parte dos trabalhos, a da entrevista. Ele afirmou ter ouvido barulhos naquela noite. “Ele referiu dois tipos de ruídos, na parte interna e na externa da casa”, disse. Segundo ela, o irmão mais velho de Rafael recordou ter ouvido alguém dizendo ‘não, pai’. Bárbara afirmou, contudo, acreditar que essas declarações ocorreram depois de uma conversa dele com a mãe, já detida pelo crime.