UFCSPA: reitora associa gastos maiores com viagens à alta do dólar e compromissos acumulados na pandemia

Reportagem questionou Lúcia Campos Pellanda sobre despesas da universidade com viagens e diárias de servidores, proporcionalmente maiores que as da Ufrgs em 2022

Reitora da UFCSPA Lucia Campos Pellanda. Foto: Reprodução / Youtube

A Reitoria da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) apontou, em resposta a um questionamento da Rádio Guaíba, que os valores gastos pela instituição com viagens e diárias, em 2022, decorrem de compromissos acumulados durante a pandemia e da alta do dólar. A manifestação ocorre após a reportagem pedir explicações sobre a quantia de R$ 822.052,52 usada para custear roteiros nacionais e internacionais de servidores no ano passado.

No início de dezembro, a universidade havia denunciado que ‘instituições federais de ensino superior vêm sofrendo com progressivas reduções do orçamento’, conforme nota assinada por reitorias gaúchas. As instituições declaravam estar sem recursos para pagamentos de ‘assistência estudantil, bolsas e contas básicas’, e foram relatados prejuízos ‘de mais de 45 milhões’ por conta de repasses que ainda não haviam sido realizados pelo governo federal.

Segundo a reitora da UFCSPA, Lúcia Campos Pellanda, a devolução dessa verba acabou sendo feita antes do fim do ano. No entanto, segundo ela, não foram restituídos valores referentes à redução de 7,2% no orçamento do Ministério da Educação (MEC). “Ficamos em uma situação bastante crítica mas, antes de finalizar o ano, o recurso financeiro foi devolvido. Ficou um corte de 7,2%, feito em junho. O restante do valor cortado, em novembro, foi devolvido”, destacou.

Os mais de R$ 822 mil gastos em itinerários da UFCSPA, conforme a reitora, são proporcionais a valores economizados na pandemia. Com a impossibilidade de realizar os roteiros, segundo ela, as despesas com viagens de funcionários estiveram na casa dos R$ 68 mil, em 2020, e R$ 81 mil, em 2021.

“Como não foram feitas as visitas técnicas e cursos previstos, por causa da pandemia, economizamos este valor e, em 2022, foram realizadas mais viagens. Este valor não é o usual, por dois motivos: compromissos acumulados e alta do dólar. Também houve um aumento do valor das diárias pelo governo, em julho. Então, realmente não é o que tínhamos planejado quando firmamos os convênios. Mesmo assim, ainda tivemos a possibilidade de executar, sabendo que era uma situação bastante particular”, declarou a reitora.

Reitora da UFCSPA, Lúcia Pellanda, em Brasília. Foto: Redes Sociais / Reprodução

Lúcia Pellanda também citou esforços para poupar recursos, como o cancelamento de um contrato de uso de um carro pela Reitoria. Conforme a docente, só essa medida resultou, em cinco anos, em uma economia de R$ 800 mil.

“É claro que nesse ano foi um gasto maior, pois já tínhamos feito uma programação. Só com o [cancelamento do] contrato de carro e outros gastos pessoais, como celulares, a gente conseguiu pagar todo o processo de internacionalização da faculdade”, enfatizou.

Internacionalização

Os roteiros internacionais, de acordo com a reitora, foram planejados entre 2018 e 2020, antes dos bloqueios e desbloqueios orçamentários dos últimos anos, baseando-se em um objetivo estratégico de inovação pedagógica.

A internacionalização, segundo a docente, é um dos pilares das universidades em geral. Ela destaca que, nos últimos cinco anos, o programa permitiu a entrada da UFCSPA em rankings internacionais que colocaram a instituição em 76º entre as universidades da América Latina e entre as 550 melhores da área de Medicina.

“Pode olhar, na Ufrgs e em todas as universidades, esse valor [de viagens e diárias] é muito importante para a internacionalização”, completa a docente.

Conforme o Portal da Transparência, no ano passado, o orçamento executado pela UFCSPA chegou a R$ 161.570.287,81. Já o da Ufrgs, mais de 11 vezes maior, atingiu R$ 1.807.501.927,97. No mesmo período, os gastos com viagens da segunda foram de R$ 2.314.814,42.

Comparados os orçamentos, o executado da UFSCPA representa 9% do da Ufrgs. Já o custo de viagens da primeira corresponde a 36% do da segunda.

Proporcionalmente, a UFCSPA gastou cerca de quatro vezes mais com os itinerários do que a Universidade Federal do RS em 2022.

Passagens e diárias da reitora 

No ano passado, dos R$ 129.107.52 utilizados em viagens pela reitora Lúcia Campos Pellanda, R$ 67.253,42 foram gastos entre o dias 15 de setembro e 3 de outubro. Os custos correspondem a um Programa de Formação em Pedagogia da Inovação, na Finlândia, e ao 4º Simpósio de Intercâmbio em Medicina da Rede de Cooperação das Escolas Médicas de Língua Portuguesa, em Portugal.

“A viagem para a Finlândia foi um convênio que fizemos com a Universidade de Turco. É um projeto que envolve toda a universidade e, inclusive, os professores finlandeses vem para cá em março. É um projeto de inovação pedagógica que está dentro da visão do programa de desenvolvimento institucional da UFCSPA, de ser uma instituição referência em inovação no ensino da saúde. Temos 30 servidores fazendo esse curso”, declarou a reitora.

Questionada pela reportagem sobre um registro de voos entre a Finlândia e Holanda, em 24 de setembro, com desembarque em Porto Alegre, no dia seguinte, a educadora disse se tratar de um erro no Portal da Transparência. Segundo ela, a informação é referente a um trecho que acabou sendo cancelado. As passagens, conforme o site, custaram mais de R$ 10 mil.

“Este trecho foi cancelado. Era do bilhete original. Vou verificar por que consta o valor como gasto, porque este foi modificado”, declarou a reitora.

De acordo com a professora, a viagem seguiu da capital finlandesa para Portugal, já que as datas entre os eventos eram próximas e não valia a pena retornar ao Brasil. O convite da Universidade do Porto, segundo ela, ocorreu após a compra das passagens.