Quase um mês após o assassinato dos quatro filhos dentro de casa, em Alvorada, na região Metropolitana, Thays da Silva Antunes ainda tenta reconstruir a vida. A casa escolhida para morar com as crianças, no bairro Restinga, em Porto Alegre, já ganha forma e marca o começo de uma nova fase. Com o apoio incondicional da família e de amigos, ela busca reunir forças para seguir em frente e superar a lembrança do crime cometido em 13 de dezembro do ano passado. O principal suspeito é o ex-marido e pai das crianças, David da Silva Lemos, de 28 anos, que não admitia o fim do relacionamento.
Lemos está preso desde o dia 14 daquele mês. Revoltado com a morte dos quatro netos —Yasmin Antunes Lemos, 11; Donavan Antunes Lemos, 8; Giovanna Antunes Lemos, 6; e Kimberlly Antunes Lemos, 3 —, o serralheiro Jardelino Antunes Júnior se tornou um companheiro inseparável da filha. Nos últimos dias, a construção da casa ganhou forma. “Estamos concluindo a casinha que ela tinha comprado para morar com as crianças. Cada vez que a gente entra nessa casa é uma dor para ela. É complicado mesmo, mas ela tem conseguido levar”, revela. “A gente tenta de todas as maneiras aliviar a dor. Curar não cura, mas a gente tenta aliviar o dia a dia”, completa.
Com a voz embargada e sem conter as lágrimas, Antunes Júnior explica que a filha queria desistir da obra, mas acabou convencida da importância de concluir a casa. “Infelizmente na semana que aconteceu tudo íamos começar a montagem da casinha, mas não deu tempo de montar. Ela não queria mais montar, não queria fazer mais nada. Eu disse para ela que temos que devíamos montar porque era o que as crianças queriam. Temos que fazer por eles”, lembra. A estrutura da nova residência deve ficar pronta até o fim da semana, quando deve ganhar telhado.
Uma cerca também deve ser instalada na moradia. E a família aceita doações de material para ajudar a concluir a casa. “Tenho que levantar o banheiro, a cerca e concluir outras partes. Ainda vai mais uns R$ 5 mil”, estima. Mesmo tentando levar a vida adiante, ele cobra justiça. “A gente quer que ele fique apodrecendo lá dentro (da cadeia). Morrer não, porque ele tem que amargar cada minuto da vida dele”, defende. Conforme Antunes Júnior, Thais está cercada de amigos e familiares. “A minha filha está sofrendo por quatro, enquanto eu estou sofrendo por cinco, porque eu estou vendo ela”.
Além do apoio do pai e dos amigos, Thays conta com o suporte da madrasta Marlise Prado. “A gente está sempre com a casa cheia, sempre tentando animar e levantar o moral dela”, destaca. Conforme Marlise, com a perda dos filhos, a jovem deixou o emprego em um salão de festas. “Ela não quis mais porque envolve crianças. E ela vai lembrar deles. Era o sustento deles, tirando a faxina”, conta, lembrando que o crime ocorreu enquanto Thays cumpria expediente. Inconformada com o crime, ela também pede por justiça.
“Ele matou uma criança de três anos que não sabia ainda o que era a vida. E matou ao mesmo tempo a gente, avós, tios, dindos, tirou tudo de nós. Tudo o que ela tinha de mais precioso nessa vida”, desabafa. Titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) de Alvorada, o delegado Edimar Machado revela que aguarda os resultados das perícias para concluir a investigação do caso. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) informou que os trabalhos seguem em andamento.
O crime ocorreu no dia 13 de dezembro, na rua Hermes Pereira de Souza, dentro de uma casa no bairro Piratini, em Alvorada. Conforme depoimento da avó materna, a mãe deixou as crianças com a avó paterna para passarem o fim de semana. As vítimas foram asfixiadas, sendo que as crianças mais velhas foram também esfaqueadas pelo pai.