Estiagem severa traz novamente agonia ao rio Gravataí

Moradores estão preocupados com nova seca, enquanto rio vive situação de estresse hídrico

Foto: Guilherme Almeida/Correio do Povo

O Rio Gravataí é um dos principais mananciais que abastecem o Guaíba. Fluindo por alguns dos principais municípios da região Metropolitana, a exemplo de Gravataí, Cachoeirinha e Alvorada, abastece milhões de habitantes com suas águas, porém sua situação está crítica. A estiagem severa causa, desde o último dia 24 de dezembro, a suspensão da captação para irrigação das lavouras próximas por parte da Corsan.

A estatal de abastecimento de água afirma que ainda não há risco para o abastecimento, e que “os próximos desdobramentos dependerão do uso responsável da água pela população”. A suspensão, por decreto da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), ocorre de forma automática quando o nível da captação no município de Alvorada atinge menos de 1,30 metro ou, em Gravataí, número inferior a 0,50 metro. No final da tarde da última terça-feira, os registros apontavam 1,17 metro e 0,67 metro, respectivamente.

Embora a estiagem mostre seus efeitos na natureza, como o aparecimento de pilares de pontes, a exemplo do que ocorre sobre a estrutura na ERS 118, em Gravataí, ou o aparecimento de rachaduras em algumas margens, locais de lazer, como o Balneário Passo das Canoas, no mesmo município, não veem redução de público. Pelo contrário, inclusive em dias de semana o local, com entrada gratuita, recebe principalmente pessoas em busca de navegar com pequenos barcos ou observar a dança dos tradicionais lambaris e a revoada das aves.

Chegar ali não é tarefa difícil, embora a sinalização seja precária. O gestor Breno Duarte, com a experiência de quem conduz o balneário natural há 50 anos, observa que cerca de 800 pessoas circulam pelo Passo das Canoas a cada domingo ensolarado. Ano passado, afirma ele, a estiagem estava pior. “Quando fica muito seco, não é possível utilizar o barco. Talvez, se esta situação continuar por mais uns 15 dias, comece a faltar oxigênio na água e haja mortes”, projeta Duarte. Por enquanto, salienta, a situação é razoável.

Há uma régua de medição, que no passado era utilizado por órgãos oficiais, para medir o nível da área, mas que hoje só é usado para referência pelos próprios moradores da área. De qualquer forma, o objeto estava seco, denunciando que, um dia, o Gravataí já esteve mais alto. O reciclador Sandro Moisés Ritter mora em Alvorada, mas trabalha circulando por Gravataí. Estava nesta quarta-feira pela manhã no Passo das Canoas, onde frequenta “de vez em quando”, para descansar um pouco, ao lado de sua bicicleta. “Eu mesmo nunca tinha visto o rio tão seco. Está horrível”, comenta.

No último dia 6 de dezembro, o prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, emitiu um decreto que, primeiramente adverte, e depois multa por reincidência, o cidadão que for flagrado desperdiçando água. A Administração afirma considerar o período entre 15 de novembro e 30 de março do ano seguinte como de estresse hídrico. “Estamos monitorando o nível do rio diariamente. E, hoje, estamos no nível crítico e baixando a cada dia. Peço ajuda na fiscalização e na conscientização das pessoas sobre o que pode ocorrer”, diz Zaffalon.

Ainda que o rio Gravataí seja de competência estadual, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-Estar Animal (Sema) afirma ainda possuir o Controle de Monitoramento, departamento que auxilia nas fiscalizações e no monitoramento dos rios e arroios do município. O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy), Sérgio Cardoso, afirma que há um “forte movimento” junto às administrações para que haja efetivas políticas públicas de preservação do rio, não apenas no período do verão.

“Muitas vezes as prefeituras ficam de costas para a preservação do rio. Tivemos um decreto de racionamento em Gravataí, e queremos que todos os prefeitos também façam este movimento. Esta baixa participação é muito ruim, o que nos dificulta muito. Desta forma, a preocupação vai voltar só lá em dezembro de 2023”, comenta. Algumas soluções ventiladas é a construção de mini barramentos para reservação de água, além da instalação de Agência de Região Hidrográfica.

Há ainda conversas junto à Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), no sentido de criar uma Agência de Região Hidrográfica, bem como a instituição de cobrança pela captação de água diretamente nos cursos, demanda que é compartilhada por representantes de outras bacias que deságuam no Guaíba e igualmente sofrem com a estiagem neste período de forma recorrente, como os rios do Sinos e Caí.