Defesa de ex-vereador preso na capital nega existência de provas que o vinculem a homicídio

Polícia Civil acredita que Lídio Santos integrou grupo acusado de ter incinerado homem, ainda vivo, dentro de veículo na zona Sul de Porto Alegre

Lídio Santos, vereador suplente do PT, em 2017. Foto: Reprodução / Redes Sociais

A defesa do ex-vereador suplente do PT, Lídio Santos, declarou à Rádio Guaíba, nesta terça-feira, que os mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Civil na residência dele não resultaram em nenhum elemento que o vincule ao grupo que incinerou um homem dentro de um carro no bairro Cascata, na zona Sul de Porto Alegre. A declaração ocorre um dia após a corporação prender um quarto suspeito de participação no crime, ocorrido em 9 de agosto.

Preso preventivamente desde 14 de novembro, o ex-suplente é suspeito de ter levado os autores à cena do crime, em um veículo, e auxiliado o grupo na fuga, também como motorista, após a vítima ter sido incinerada. Recusando-se a depor, ele alega ser inocente e relata que teve o carro roubado dias antes do homicídio.

“A defesa do Lídio reitera a sua inocência. Como se trata de um inquérito policial, ainda sem perspectiva de denúncia criminal, nos resguardamos a afirmar que integrantes da polícia colhem elementos informativos, e não provas. Ainda, o direito constitucional de se permanecer em silêncio não pode, em hipótese alguma, ser sopesado em desfavor de investigados ou réus”, disse a advogada do suspeito, Eduarda Garcia.

A representante destacou que a investigação tramita em sigilo e que a defesa teve acesso apenas a uma parte do inquérito. Segundo ela, a polícia ‘vem juntando a conta-gotas os elementos colhidos, praticamente omitindo-os das defesas’.

[Omitir elementos da defesa] obstaculiza a nossa atuação e configura uma lesão ao direito de defesa, uma garantia constitucional. Vale ressaltar que muitas medidas além cautelares para além da prisão também foram cumpridas, como mandados de busca e apreensão, e, no caso de Lídio, nada foi encontrado em sua casa que o pudesse vincular ao homicídio em questão”, afirmou a jurista.

Ela adicionou ainda que o suspeito não teve nenhuma condenação criminal e mantém boa conduta, além de residência fixa, família constituída e um abaixo-assinado pedindo a liberdade dele. A defesa também solicitou uma reunião com o juiz responsável para tentar levantar o sigilo sobre o processo.

Polícia convicta sobre envolvimento de ex-vereador

Contatada pela reportagem, a delegada Isadora Galian reiterou, nessa segunda-feira, estar convicta da participação de Lídio no crime. A titular da 1ª Delegacia de Homicídios da Capital apura se o suspeito, que já tinha passagens por porte ilegal de arma de fogo, lesão corporal e ameaça, também atuou na morte direta da vítima.

“A gente não tem dúvidas que ele participou do crime. A gente conseguiu comprovar que ele não sofreu um roubo e que efetivamente participou [do crime]. Inclusive, em duas oportunidades, ele manteve o direito constitucional de ficar em silêncio”, enfatizou a policial.

O crime

Em 9 de agosto, o grupo investigado sequestrou e reteve a vítima em um imóvel, na vila Cruzeiro. Posteriormente, levou o homem, de carro, até a rua Canudos, no bairro Cascata, local onde ateou fogo ao veículo com a vítima dentro. Um desentendimento entre facções pode ter motivado o crime.

Ainda com vida, homem teve o corpo incinerado dentro de carro. Foto: Polícia Civil / Reprodução

“A vítima, que era de uma determinada facção, estaria se relacionando com outra [facção]. A brutalidade do crime está diretamente ligada ao recado que eles [criminosos] querem passar para quem mudar de facção”, declarou a titular da 1ª Delegacia de Homicídios.

Pelas informações apuradas pela perícia, o crime ocorreu com o homem ainda vivo.