Fiergs projeta crescimento de 5% da economia gaúcha em 2023, mas alerta sobre incerteza na política fiscal do país

Presidente da Fiergs, Gilberto Petry diz que os primeiros seis meses de 2023 serão fundamentais para os empresários, consumidores e investidores fazerem suas projeções sobre o que esperar nesse novo ciclo

Foto: Alina Souza / CP

A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) projeta alta de 5,0% da economia gaúcha em 2023. A recuperação da produção agrícola deve resultar numa taxa de crescimento elevada para economia do Rio Grande do Sul. Os dados constam em balanço e perspectivas da economia divulgado pela entidade nesta terça-feira.

Na contramão dos resultados positivos da economia nacional, a economia do Rio Grande do Sul deve apresentar neste ano retração de 2,5% no PIB, por conta da estiagem que provocou a queda da produção agrícola. Assim, a taxa de crescimento esperada para o setor de Serviços e Indústria, ambas em linha com a nacional, não será suficiente para compensar os impactos da forte contração da Agropecuária.

Por sua vez, a Indústria apresentará um desempenho modesto em 2022, com resultados diversos entre os seus segmentos, mesmo diante da recuperação da economia brasileira. O PIB da Indústria brasileira (Transformação, Construção, Extrativa e os Serviços Industriais de Utilidade Pública) deve encerrar o ano com avanço de 1,5%, enquanto a Indústria gaúcha deve crescer 2,5%. O segmento de Transformação foi o mais afetado pela conjuntura turbulenta e pelos entraves nas cadeias de suprimentos, principalmente no primeiro semestre. Por outro lado, a Construção foi o destaque, em linha com ciclo de alta nos investimentos.

Algumas atividades industriais que apresentaram grande impulso no final de 2020 e 2021, tais como a de bens de consumo duráveis e não duráveis, mostraram estabilidade. Já os segmentos ligados a veículos automotores e bens de capital apresentaram crescimento mais robusto, em função da melhora relativa nas cadeias de suprimentos ao longo do ano. Na Indústria gaúcha, o complexo metalmecânico, mais uma vez, sustentou a alta da produção, especialmente, nos segmentos de Veículos Automotores, puxado por automóveis, e Máquinas e Equipamentos, em especial os tratores, máquinas e implementos agrícolas.

Brasil

Na economia brasileira, o crescimento estimado em 2022 é de 3,1%, avanço muito acima do esperado no final do ano passado. Essa surpresa pode ser explicada, em grande medida, por três fatores: demanda reprimida e reabertura do setor de Serviços, impulso fiscal através de programas sociais e redução de impostos, e demanda externa ainda elevada. Assim, a atividade econômica permaneceu aquecida durante o ano, e, no primeiro trimestre, a economia do País retornou ao patamar do primeiro trimestre de 2014, pico histórico da série do PIB.

Mundo

O ano de 2022 foi caracterizado por grandes eventos nos cenários interno e externo que mudaram a trajetória inicialmente esperada para a economia. O abrandamento da pandemia nos países do Ocidente e a invasão da Ucrânia serão os dois acontecimentos mais lembrados, que desencadearam uma série de impactos na economia mundial, como a crise energética, a aceleração da inflação e o aperto nas taxas de juros, conjuntura há muito tempo não vista nos países desenvolvidos. Além disso, a economia chinesa afetou o crescimento global com o seu ciclo econômico muito particular, influenciado por uma crise no setor imobiliário e um severo enfrentamento da pandemia baseado em grandes e rígidos lockdowns, a chamada política de “Covid Zero”. Nesse contexto, apesar da desaceleração em relação a 2021, a economia mundial deverá crescer 3,2% em 2022.

Perspectivas 2023

Para o presidente da Fiergs, Gilberto Petry, e o economista chefe da entidade, André Nunes, os primeiros seis meses de 2023 serão fundamentais para os empresários, consumidores e investidores fazerem suas projeções sobre o que esperar nesse novo ciclo. Como ponto de partida, a federação sugere uma agenda que coloca a Indústria no centro do processo de desenvolvimento.

O crescimento esperado para 2023 encontra como obstáculo a tendência de acomodação no avanço do volume de Serviços. Pelo lado da política fiscal, há muita incerteza acerca do tamanho do gasto extra-teto que será aprovado, mas uma expansão das despesas na ordem de R$ 200 bilhões traria mais impactos negativos pela via financeira e da perda de confiança do que um ganho de crescimento em decorrência do maior consumo. Do ponto de vista do cenário externo, a expectativa de desaceleração, com riscos de recessão em países desenvolvidos, deve afetar a demanda por exportações. No mesmo sentido, a taxa de juros interna elevada produzirá os seus efeitos máximos sobre a economia durante o primeiro semestre.

Nesse cenário, as expectativas para 2023 são de desaceleração no crescimento, com a economia brasileira reduzindo seu ritmo de avanço para 1,0%. Esse crescimento pode ser encarado tanto como uma correção cíclica depois de dois anos de recuperação intensa, ou o início de uma estagnação. O resultado futuro vai depender da capacidade do novo Governo Federal e do Congresso Nacional sinalizar a continuidade da agenda de reformas e adotar medidas que garantam o equilíbrio das contas públicas e da dívida no longo prazo, de modo que a confiança seja sustentada, bem como criar um ambiente de estabilidade para que o Banco Central possa iniciar um ciclo de baixa dos juros o quanto antes. Caso contrário, o Brasil começará a flertar com riscos de uma estagflação: inflação elevada com atividade em desaceleração.

Para a economia do Rio Grande do Sul, a recuperação da produção agrícola deve resultar numa taxa de crescimento elevada. O aumento estimado na produção da safra de grãos é de 52,5%, conforme prognóstico do IBGE. A expectativa é alta de 5,0% da economia gaúcha. Esse desempenho aparenta ser elevado, mas isso coloca o nível do PIB do RS em 2023 apenas 2,4% acima do patamar de 2021, o equivalente a crescer a uma média de 1,2% em dois anos, o que é pouco e deixa o Rio Grande do Sul abaixo da média nacional.

As perspectivas para a Indústria não são muito diferentes de 2022. A produção industrial deve ter mais um ano de crescimento, embora baixo. A economia brasileira e a mundial devem desacelerar, a incerteza ficou maior, o ciclo de deflação terminou, e a política monetária deve seguir restritiva num quadro fiscal desafiador e de demanda externa menor. Tendo como únicos vetores positivos a normalização completa da cadeia de suprimentos e menores pressões sobre os custos, o PIB da Indústria brasileira e da gaúcha devem crescer, em 2023, 1,0% e 1,2%, respectivamente.

A perspectiva de baixo crescimento mundial, com reflexo nos preços de commodities, e o prognóstico de uma boa safra no ano que vem, favorecerem os níveis de inflação no Brasil, que deverá encerrar 2023 em 5,2%. No entanto, a possibilidade de maiores estímulos fiscais coloca um viés de alta em nossas projeções, principalmente pelos seus efeitos sobre os preços dos Serviços, que ainda se encontram sem perspectivas de uma queda significativa para os próximos meses.

Incertezas

A incerteza sobre a condução da política fiscal e suas consequências sobre a percepção do risco-país devem apontar para um cenário mais volátil no ano que vem, colocando dúvidas sobre quando o Comitê de Política Monetária iniciará o ciclo de redução da taxa básica de juros. A única certeza que temos é que o movimento deve começar mais tarde, chegando ao final de 2023 em 12,75% ao ano. Essa conjuntura adversa irá se refletir em uma taxa de câmbio mais desvalorizada, a qual deverá encerrar 2023 em R$/US$ 5,35.

Por fim, a conjuntura é de desaceleração, mas a economia brasileira possui uma condição relativamente favorável para os próximos anos, colhendo os benefícios de um ciclo de reformas iniciado em 2016, projetos de investimento que estão em andamento e uma conjuntura internacional que coloca o País numa situação atrativa em relação aos seus pares. Nesse momento, percebe-se que os agentes encontram um ambiente de pouca visibilidade quanto aos projetos para a continuidade da agenda de modernização e competividade, o que se reflete em índices baixos de confiança.