Um mês após o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) e a Secretaria Estadual da Saúde (SES) confirmarem a circulação da variante BQ.1 da Covid-19, o Rio Grande do Sul observa a disparada de casos da doença em novembro. De acordo com dados da SES, foram registrados 25.743 casos positivos naquele mês, o que representa aumento de 735% em relação outubro, quando houve 3,5 mil diagnósticos confirmados. O número de mortes também voltou a aumentar em novembro após quatro meses de queda, com 64 óbitos.
Diante desse cenário, o médico infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho alerta para a importância de a população manter a vacinação em dia. A orientação vale para todos: idosos, adultos, crianças e bebês a partir dos seis meses de vida. Supervisor do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos, Gewehr Filho explica que a BQ.1 tem aumentado o número de internações e mortes. “Ela apresenta mutações adicionais à Ômicron, que conferem maior transmissibilidade, sendo a variante dominante no momento”, alerta.
O especialista observa que a maioria da população deixou de seguir os protocolos sanitários básicos contra a Covid-19. “Há uma baixa procura pela testagem para confirmar ou não a presença do vírus no organismo e as pessoas com sintomas deixaram de fazer o isolamento ou quarentena recomendados, o que faz com que a BQ.1 transite muito mais. Os dados epidemiológicos ainda confirmam que muitas pessoas não fizeram os reforços vacinais necessários, assim o vírus vai ficar circulando durante um bom tempo”, avalia.
Conforme o infectologista, uma nova onda da doença já iniciou no Estado, o que exige cuidado redobrado da população, como uso de máscara em espaços de grande circulação e higienização das mãos com frequência. Ele afirma que o crescimento de casos confirmados se deve a vários fatores, como o surgimento de uma variante mais transmissível, relaxamento das medidas de prevenção e aglomerações que começam a aumentar por conta de eventos sociais e período de férias no fim de ano.
Para evitar a circulação do vírus, o especialista destaca a medida adotada pelo governo da Bahia, que emitiu decreto que torna obrigatório uso de máscaras em transportes públicos, tais como trens, metrô, ônibus, lanchas e ferry boat, e seus respectivos locais de acesso, como estações de embarque; em salões de beleza e centros de estética; bares, entre outros. “É o momento oportuno. Não sabemos quando vai ser o pico da ômicron, porque o número de contaminações pode ser muito grande”, completa.
Ele ressalta que a maioria das internações no Moinhos de Vento por conta da Covid-19 são de pacientes que não tomaram nenhuma dose da vacina ou estão com esquema vacinal incompleto. “Geralmente são pacientes de grupos de maior risco”, afirma. Conforme Gewehr Filho, o número de mortes é o último indicativo que começa a subir. “Primeiro aumenta a taxa de casos positivos, depois as internações em hospitais e, em seguida, o número de mortes”, explica.
No início de dezembro, o Cevs divulgou um balanço da situação vacinal entre as pessoas que perderam a vida por conta da doença. Os dados apontam que quanto mais avançado o esquema de doses do indivíduo, menor o risco de morte por causa da Covid-19, chegando a diminuir em até 16 vezes as chances de óbito, dependendo da idade. Entre os idosos, a taxa de mortalidade é até oito vezes menor para quem já fez a segunda dose de reforço, em comparação com a pessoa que não está com o esquema primário completo.
A faixa etária dos idosos é hoje a com maior proporção entre os óbitos de Covid-19 no Estado, representando cerca de 90% das ocorrências no último mês. De acordo com o Cevs, mais de 5 milhões de pessoas estão com alguma dose de reforço em atraso no Estado. Em contraste com as expressivas reduções nas chances de óbito pela covid-19 trazidas na análise do Cevs, está o crescente número de pessoas no Estado com alguma dose em atraso.
Somente em relação ao segundo reforço, são 2,2 milhões de pessoas com essa dose em atraso. A quantidade é maior do que o número de pessoas com essa dose feita até este momento: 1,97 milhão. Outras 3 milhões estão com o primeiro reforço em atraso e mais 651 mil estão com a segunda dose do esquema primário não realizada no tempo preconizado.