Dólar sobe e Ibovespa recua após Haddad falar em reforma tributária sem citar âncora fiscal

Ex-ministro afirmou que uma reforma tributária vai ser prioridade de Lula, mas não se referiu ao controlo de gastos em almoço da Febraban

O Ibovespa recuava, no início da tarde desta sexta-feira, após forte alta na véspera, com o impacto da fala de Fernando Haddad, cotado para ser ministro da Fazenda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de evento da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). O mercado reage com as incertezas relacionadas ao rumo fiscal no país e à equipe ministerial do novo governo.

Às 15h16min, o índice caía 2,08%, a 109.504,75 pontos, acumulando até o momento declínio de cerca de 4,7% na semana. O volume financeiro no dia somava R$ 5,2 bilhões.

Durante a fala de Haddad, o dólar acelerou alta contra o real e o movimento se acentuou na sequência do discurso, com a moeda norte-americana chegando a atingir R$ 5,40, com valorização de 1,69%.

Haddad afirmou que uma reforma tributária ampla vai ter prioridade total no início da gestão, mas não se referiu a nenhuma âncora fiscal para controlar o gasto público, a principal preocupação do mercado financeiro em relação à volta do PT ao poder.

Enquanto Lula segue de repouso após ter sido submetido a um procedimento médico nas cordas vocais, no início da semana, Haddad subiu ao palco do evento da Febraban logo após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertar que não se pode ter a política monetária de um lado e a fiscal do outro.

Com o mercado financeiro tendo reagido mal recentemente a falas de Lula em que defendeu a responsabilidade social à frente da responsabilidade fiscal, e com incertezas sobre a chamada PEC do Estouro, que prevê retirar do teto de gastos todo o custo do programa Bolsa Família, Haddad não mencionou qualquer mecanismo de controle de gastos e tampouco abordou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

O ex-ministro da Educação reiterou discurso de Lula de que o terceiro governo vai representar muito do que já havia sido feito nas duas gestões anteriores, e disse que uma determinação clara do presidente é dar “prioridade total” à reforma tributária logo no início da gestão.

Segundo Haddad, a intenção do presidente eleito é primeiro aprovar o projeto já em tramitação no Congresso que mira a tributação do consumo, e depois enviar uma nova proposta para reformulação dos impostos sobre renda e patrimônio.

“O compromisso do presidente com a agenda de realizar em 2023 a reforma tributária, e conta com apoio da sociedade, inclusive do setor bancário, para que a gente tenha êxito no ano que vem em fazer uma reforma que é essencial e estrutural”, afirmou.

Haddad disse também que o Orçamento da União hoje enfrenta dificuldade de atingir qualquer compromisso programado e precisa ser reconfigurado de modo a dar consistência ao gasto público. Segundo ele, é preciso repensar gastos que foram autorizados e outros que foram represados, como nas áreas de meio ambiente e ciência e tecnologia.

O ex-prefeito citou o programa Auxílio Brasil como exemplo de um gasto que não atinge o objetivo, afirmando que se gasta proporcionalmente três vezes mais do que se gastava com o Bolsa Família, mas sem se conseguir acabar com a fome.

Ele também mencionou o chamado “Orçamento secreto”, afirmando que o Congresso “deve e pode” participar da gestão do Orçamento no direcionamento de recursos, mas alertando que isso não significa se descomprometer com a transparência e eficiência do gasto público.

O chamado “Orçamento secreto” é um instrumento de destinação de recursos a partir das emendas de relator ao Orçamento da União, que ficou conhecido assim diante da dificuldade de se identificar os autores dos pedidos de repasse.

Falando diante da cúpula do sistema bancário nacional, Haddad defendeu que seja ofertado crédito mais acessível e racional, com spread menores, afirmando que a adimplência das famílias é um “pilar de sustentação” do desenvolvimento econômico do país.

“Nós podemos continuar uma agenda forte para baratear o crédito no Brasil, para tornar o crédito uma alavanca de desenvolvimento sustentável para o nosso país”, afirmou.