Os bloqueios de caminhoneiros nas estradas do país podem provocar impacto nos preços e na inflação. Os supermercados já registram problemas de desabastecimento, principalmente de produtos perecíveis, como frutas, legumes, verduras, carnes, frios e laticínios, além do aumento do movimento de consumidores, que temem risco de falta dos itens nas gôndolas.
Segundo o economista Matheus Peçanha, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), os produtos mais perecíveis poderão ter reflexo nos preços no curto prazo. No entanto, ainda não é possível fazer uma projeção.
“Teremos um impacto importante principalmente nos alimentos in natura. Por serem perecíveis, eles são afetados mais rapidamente do que qualquer choque que tenham na sua produção, logística e distribuição”, afirma Peçanha. Já os bens que dependem mais de estocagem talvez não sofram impacto. Isso vai depender de quanto tempo vão durar as manifestações.
Nesta terça-feira, 70% dos supermercados já registravam problemas de abastecimento no país. Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), as regiões mais afetadas eram Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.
Entre os itens que começam a faltar nas gôndolas estão frutas, legumes, verduras, carnes, frios e laticínios, além de itens de área de mercearia e de padaria. O monitoramento da Abras também identificou uma corrida dos consumidores aos supermercados.
Os alimentos como o leite e derivados, que estavam começando a baixar de preço, agora podem ter uma nova alta por causa da dificuldade que os produtores estão enfrentando para escoamento da produção.
Após escalada de preços desde 2021, o país registrou três meses seguidos de deflação, em julho (-0,68%), agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). Mas a prévia do índice de preços em outubro teve alta de 0,16%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“Outros produtos in natura que já estavam pressionados, como os hortifrútis afetados por problemas climáticos, podem piorar de cenário pelo menos nesta semana. Se o movimento acabar logo, o impacto estará completamente dissipado até o fim do mês. Caso dure mais, isso pode ter um impacto como foi na greve de 2018”, avalia Peçanha.
Em 2018, os dez dias de greve dos caminhoneiros puderam ser sentidos na economia do país. A paralisação, que teve início no dia 21 de maio daquele ano, levou a uma alta da inflação, que passou de 0,4% para 1,26% no mês seguinte.
“Fazendo um paralelo com o que aconteceu na paralisação dos caminhoneiros em 2018, foi uma hecatombe nos dados da economia, tanto da atividade econômica, como de preços”, analisa o economista. No entanto, a Abras descarta aumento nos preços neste momento. Segundo a associação, os produtos que estão para ser entregues já foram negociados.
As paralisações nas estradas começaram na noite de domingo, após o resultado da eleição, e foram aumentando ao longo da semana. Bloqueios e interdições atingiam 20 estados e o Distrito Federal na terça-feira, apesar de decisões judiciais que determinam o desbloqueio das estradas.