No último debate presidencial antes da votação em segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram comparações entre os governos de cada um, nessa sexta-feira.
O confronto ficou marcado, ainda, por ataques pessoais entre os dois. Como consequência, Lula pediu 18 direitos de resposta e Bolsonaro, cinco. Apenas o petista foi atendido, em duas solicitações.
Além disso, o mediador do debate, William Bonner, usou segundos do encontro para se defender de uma fala de Bolsonaro. O presidente criticou que o jornalista tenha dito que Lula foi absolvido das acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e induziu que o petista possa “indicar Bonner a uma vaga para o Supremo Tribunal Federal (STF)”.
Bonner reconheceu ter afirmado que Lula não deve nada à Justiça, mas disse que não falou nenhuma mentira. “Como jornalista, eu não digo coisas da minha cabeça. Eu disse isso baseado em decisões fundamentadas do Supremo Tribunal Federal.”
Ambos os candidatos falaram em conceder aumentos reais para o salário mínimo a partir de 2023. Bolsonaro até anunciou um valor: R$ 1,4 mil. “Mesmo com pandemia, com falta d’água e outras crises, nós concedemos reajuste para os aposentados e majoramos o salário mínimo. Tanto é verdade que nós acertamos a economia, que eu posso anunciar que, a partir do ano que vem, o novo salário mínimo será de R$ 1,4 mil.”
Já Lula comentou que o reajuste vai ser sempre acima da inflação. “Nós vamos voltar aumentar o salário mínimo todo ano acima da inflação, de acordo com crescimento de PIB. Nós vamos consertar esse país. Nós vamos ter uma política de financiamento para pequenos e médios empreendedores individuais, nós vamos fomentar a criação de cooperativa aos milhares nesse país, porque nós temos que aproveitar a criatividade do povo brasileiro e fazer esse país crescer, fazer as pessoas viverem bem.”
Com relação à aposentadoria, o presidente afirmou, logo no início do debate, que concedeu “reajuste para os aposentados” e que aumentou “o salário mínimo”.
“Tive pela frente uma pandemia. O mundo todo sofreu na economia. Nós não deixamos de lado os aposentados, não deixamos de lado o salário mínimo. Fizemos nossa parte. Mais ainda, Lula. Em 2020, para atender aos pobres, nós demos o Auxílio Emergencial de R$ 600.”
A situação envolvendo o ex-deputado federal Roberto Jefferson, que atirou em policiais federais que cumpriam mandado de prisão expedido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, também foi citada no debate. Lula tentou associar a imagem de Jefferson a Bolsonaro. “Sabe qual é o seu modelo de cidadão pacífico? O seu modelo de paz é o Jefferson, armado até os dentes, atirando na Polícia Federal”, disse.
Bolsonaro respondeu e lembrou que o ex-deputado federal foi delator do Mensalão, esquema de compra de votos de parlamentares no governo de Lula. “É teu parceiro de roubalheira, de compra de votos. Esse é Roberto Jefferson. Eu determinei tão logo houve episódio lá em Levy Gasparian, que Roberto Jefferson fosse preso imediatamente. E o tratamento dispensado a ele é de bandido. Afinal de contas, quem atira em policial é bandido”, disse o presidente.
Bolsonaro e Lula discutiram, também, sobre os programas de transferência de renda que marcaram cada gestão. O atual presidente reclamou que o valor médio do Bolsa Família era insuficiente para ajudar as famílias beneficiárias e destacou que a gestão dele mudou isso.
“Lula, por que você pagou tão pouco aos beneficiários do Bolsa Família? Em média R$ 190 em valores corrigidos. Começava com R$ 40. E mais ainda: se uma pessoa dessa arranjasse um emprego, perdia o emprego [o presidente quis se referir ao benefício]. Ela passou a ser uma escrava do teu programa chamado Bolsa Família atrás de votos. Nós fizemos o contrário de você: multiplicamos por três esse valor, para, no mínimo, R$ 600 reais. E se, porventura, alguém quiser arranjar um emprego, não vai perder o emprego [benefício].”
Lula rebateu e disse que outros programas sociais eram atrelados ao Bolsa Família. “É uma bobagem comparar o Bolsa Família com o Auxílio Brasil, porque o Bolsa Família era apenas um dos programas da política de distribuição de renda que nós fazíamos. Eu estou dizendo: além do Bolsa Família, a gente tinha as condicionantes das crianças estarem na escola, da mulher dar vacina nas crianças, da mulher fazer o tratamento do parto. A gente dava programa de compra de alimento da agricultura familiar.”
O meio ambiente também rendeu discussão entre os candidatos. Lula perguntou a Bolsonaro sobre o tema: “Até quando o senhor vai continuar a política de desmate nos biomas brasileiros, sobretudo na Amazônia?”.
Bolsonaro respondeu citando números. “Desmatamento governo Lula: 20 mil quilômetros quadrados por ano. No nosso Governo está alto, mas está 11 mil quilômetros quadrados por ano. Metade, praticamente. Tem que diminuir mais? Tem que diminuir mais, e estamos nos esforçando para isso. Agora, Lula… eu estou cansado de falar aqui: para de mentir, Lula. Não dá para comparar com números o teu governo e o meu.”
Bolsonaro também mencionou os escândalos de corrupção revelados ao longo dos mandatos de Lula e lembrou que políticos aliados ao ex-presidente foram presos. “Você foi descondenado, Lula, por um amigo do Supremo Tribunal Federal, que achava que você havia de ser julgado em Brasília, e não em Curitiba. Você é um bandido, Lula! Cadê os seus ministros? Cadê Palocci? Cadê José Dirceu? Cadê Genoíno? Cadê essa turma toda?”, questionou.
Em resposta, Lula disse que era o único no debate com “atestado de idoneidade”. “Fui acusado para permitir que você ganhasse as eleições, fui julgado por um juiz mentiroso. Ganhei 26 processos na Justiça Federal, ganhei dois na ONU e ganhei na Suprema Corte. Eu sou um cidadão idôneo.”
Os dois presidenciáveis também debateram sobre violência. Bolsonaro disse que os índices de homicídio caíram durante o governo dele. “A violência comigo diminuiu bastante. No seu governo, só subiu. Desde 2003 até terminar, em 2006, aumentou em média 30% os homicídios no Brasil. O que nós fizemos, diferentemente de você? Eu não fui visitar traficante, não. Eu peguei o Marcola, aqui de São Paulo, e transferi juntamente com sua gangue para presídio de segurança máxima.”
Em contrapartida, Lula criticou as normas de Bolsonaro que facilitaram o acesso ao porte e à posse de armas de fogo. Ele prometeu derrubar todos os atos assinados pelo atual presidente. “No meu governo a gente vai distribuir livros. A gente vai distribuir cultura. Porque ninguém compra arma para educar. Ninguém compra arma para fazer o bem. As pessoas compram armas para matar, e você está vendo o crescimento. Quem está se beneficiando das suas armas é o crime organizado.”