O cantor Seu Jorge prestou depoimento à Polícia Civil sobre a investigação que busca identificar os autores dos ataques racistas contra ele durante um show realizado no Grêmio Náutico União (GNU), em Porto Alegre, no dia 14 deste mês.
Durante o testemunho, realizado na tarde desta terça-feira, o músico relatou à titular da Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, delegada Andrea Mattos, que não ouviu as ofensas, por estar usando fones de ouvido durante a apresentação, e que só notou as vaias do público.
“Ele não viu nem ouviu nenhuma ofensa que tivesse cunho racista. Ele disse que ficou sabendo um dia após o acontecimento. Eu já imaginava que ele fosse neste sentido por conta das oitivas que fizemos até o momento. Ele não voltou para fazer o bis no show em virtude das vaias, que ele atestou ter escutado”, explicou.
A partir do depoimento do músico, a delegada enfatiza ser crucial para a conclusão das investigações ouvir os demais integrantes da equipe do artista.
“Eu acho que é essencial conversar com o pessoal da banda, pois não sei se eles tinham o mesmo retorno do fone que o cantor tinha. Até por este motivo, Seu Jorge alegou não ter escutado nada por que ele estava escutando a sonora da banda. Então, a ideia é ouvir empresário, assistente pessoal que, talvez, possam ter ouvido alguma manifestação do público”, pontuou.
Além dos depoimentos, a policial salienta que uma série de imagens está sendo coletada e analisada. Ainda de acordo com a delegada, a Polícia Civil busca imagens que mostrem o público de frente para identificar possíveis autores dos atos de racismo.
“A polícia trabalha com a questão da autoria e da materialidade. Para fins penais, nós precisamos comprovar este binômio – autoria e materialidade -, mas em um caso como este, além da autoria, também ganha muita força a questão da materialidade, que é provar que o fato ocorreu. Por que? em virtude de desdobramentos em outras esferas, como a área cível. E aí, a empresa em si, a pessoa jurídica, ela não sofre responsabilização penal, pois teríamos que encontrar pessoas que tenham feito as ofensas. Mas quando vamos para a área cível e tem esta materialidade robusta, nós conseguimos fazer uma responsabilização para a empresa também”, relatou.
Até o momento, oito pessoas já foram ouvidas pela Polícia Civil. Além de Seu Jorge, o presidente do GNU, Paulo Bing, prestou esclarecimentos na semana passada.
A titular da Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre projeta coletar, ao menos, mais 15 depoimentos nas próximas duas semanas.
Relembre o caso
No dia 14 de outubro, Seu Jorge realizou uma apresentação no Clube Grêmio Náutico União. Os ataques começaram após uma manifestação do cantor contra a redução da maioridade penal, defendida pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). No discurso, Seu Jorge fazia referência à defesa de jovens negros de comunidades pobres ao justificar o posicionamento.
Após o término do final de semana, o músico se pronunciou sobre o caso e lamentou o ocorrido através de um vídeo. Nesta quarta, a publicação não era mais encontrada nas redes sociais do artista.