Autores de agressão na Praça da Encol já tinham histórico de vandalismo, revela fonte na BM

Agressores, nenhum deles de cor negra, também não foram reconhecidos como integrantes de movimentos étnicos por organizadores da manifestação

Carlos agride homem de 55 anos na Praça da Encol. Foto: Marcel Horowitz

Fontes junto à Brigada Militar (BM) confirmaram, nesta segunda-feira, que os homens que agrediram o comerciante Jerry Mendes Rodrigues, de 55 anos, e o filho dele, de 15, na Praça da Encol, no último sábado, após o ato em apoio ao cantor Seu Jorge, alvo de supostos ataques racistas durante um show no Clube Grêmio Náutico União, são conhecidos por provocar episódios violentos em meio a manifestações. Os agressores, nenhum deles de cor negra, também não foram reconhecidos como integrantes de movimentos étnicos pelos organizadores da manifestação.

“Essas pessoas não são conhecidas do movimento negro e não fizeram parte da organização [do ato]. Tudo o que aconteceu foi organizado por mulheres negras, eu era uma das organizadoras”, declarou Priscila Vaz, uma das coordenadoras do ‘Vidas Negras Importam’, à Rádio Guaíba. “Eles não compõem nenhum dos movimentos negros no Rio Grande do Sul”, enfatizou.

“Não sabemos quem são aquelas pessoas”, disse Kauê Kamau, coordenador discente do Núcleo de Pesquisa Antirracista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), um dos coletivos que participaram do protesto. “Nenhuma das pessoas que brigaram ali [após o protesto] era integrante do Núcleo”, frisou.

Valter Cruz, também membro do Núcleo de Pesquisas, enfatizou que, para integrar o grupo da Ufrgs, é necessário um currículo. Desta maneira, segundo ele, todos os integrantes do coletivo se conhecem.

Valter frisou que a orientação do grupo, e do ato como um todo, era evitar provocações e agressões. Ele enfatizou que nenhum dos colegas dele conhece os agressores.

Quem são os agressores

De acordo com informações da BM, Carlos Menezes, tatuador, e Diego da Rocha Londero, membro de uma torcida organizada do Inter, foram arrolados em boletim de ocorrência, feito pelas vítimas, por lesão corporal. Eles também são apontados pelo mesmo crime em um registro de queixa feito, na mesma data, por um jovem de 22 anos, agredido nas proximidades da avenida Nilópolis, por usar um adesivo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Posteriormente, os agentes de segurança também identificaram Bolívar de Souza Duarte, que não consta no BO pelo fato de não ter sido reconhecido no momento do ataque.

Diego da Rocha Londero. Foto: Marcel Horowitz
Carlos Menezes Junior. Foto: Redes sociais
Bolívar de Souza Duarte. Foto: Marcel Horowitz

Os ataques foram registrados pelas lentes de Douglas de Oliveira Freitas. A corporação revelou que ele atua como cameraman do grupo, registrando as agressões e fotografando o rosto de policiais militares.

Douglas de Oliveira Freitas registra tumultos para o grupo de agressores. Foto: Brigada Militar

Descritos como ‘velhos conhecidos’ por uma fonte da Brigada Militar, o grupo age sob um mesmo modus operandi: infiltra-se em atos públicos e, após os tumultos, registra os atos de violência com fotografias e filmagens. Eles possuem antecedentes por ameaça, dano ao patrimônio, desacato e agressão.

A reportagem tentou falar com Diego após o ocorrido. Ele recusou-se a se identificar. Também tentou contato com Carlos Menezes, mas não teve retorno.

Entenda o ataque

De acordo com o homem agredido junto ao filho, os ataques começaram após o grupo perceber que ele vestia uma camiseta do Inter feita em alusão ao Dia da Consciência Negra para o jogador Taison, vítima de racismo. Por estar ao lado de uma bandeira do Brasil, ele disse ter sido identificado como um opositor político.

“Uma mulher começou a gritar que eu era racista e não poderia usar aquela camiseta. Eu comecei a rir, pois não acreditei no que ela estava dizendo. E foi aí que [os agressores] vieram para cima”, declarou Jerry à Rádio Guaíba. “Jamais achei que eles [integrantes do Movimento Negro] fizeram parte daquilo. Eles estavam lá defendendo a causa deles, é óbvio que não foram parte”, complementou.

O comerciante nega ter insinuado que portava uma arma, conforme alegaram os agressores momentos após o ataque. Ele alega, inclusive, ter levantado a camiseta para mostrar que não tinha nada sob a roupa, antes de ser agredido.

Segundo a versão dos policiais, não houve prisões na hora do ataque porque a primeira medida adotada buscou conter o tumulto. Nesse momento, conforme a ocorrência, os agressores fugiram do local.

Confira o momento das agressões: