A Caixa Econômica Federal garantiu hoje ter liberado “com muita consciência” o crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, com juros de até 3,5% ao mês em, no máximo, 24 parcelas, e negou a intenção de agravar a situação financeira das famílias mais pobres. Foi o que disse a presidente do banco, Daniella Marques.
“A gente não quer estimular o endividamento de famílias vulneráveis, mas 70% dessas pessoas são informais ou autônomas e precisam do dinheiro para comprar mercadorias, adquirir uma bicicleta para realizar entregas, investir no negócio ou pagar uma dívida mais cara”, explicou Daniella nesta quinta-feira, em passagem pela sede da Record TV.
A avaliação da Caixa surge após o Ministério Público Federal (MPF) pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) a suspensão da concessão do crédito consignado do Auxílio Brasil. A medida cautelar, assinada pelo subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, vê possível “desvio de finalidade” com a liberação e defende a necessidade de “salvaguardar os interesses do banco e, por consequência, o interesse público”.
Ao defender a linha de crédito, Daniella ressaltou que, normalmente, o endividado paga juros superiores aos oferecidos pela linha de crédito atrelada ao benefício social. É o caso do cartão de crédito e do cheque especial, com taxas médias de, respectivamente, 14,36% e 8,12%, segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac).
Os juros mais baixos decorrem do desconto direto da folha de pagamento do programa, o que facilita a liquidação dos valores. No entanto, especialistas em educação financeira defendem que o consignado seja usado apenas para empreender ou para trocar uma dívida mais cara, conforme citou Daniella.
Além da Caixa, outras 12 instituições financeiras oferecem o consignado do Auxílio Brasil. Até o momento, a linha de crédito já emprestou quase R$ 2 bilhões a mais de 700 mil beneficiários do programa assistencial. A modalidade limita os repasses a até 40% do valor total recebido pela família.
A linha de crédito oferecida pela Caixa é de 3,45%, beira o limite estabelecido pelo governo para a modalidade e figura acima da taxa praticada por outras instituições. Daniella Marques explica que o patamar respeita a modelagem de risco do banco. “Os testes foram feitos a partir de uma previsão de inadimplência”, disse ela, ao reforçar a ideia de estimular o crédito consciente entre os beneficiários do programa.
Para contratar o empréstimo, o beneficiário do Auxílio Brasil precisa estar recebendo o benefício há mais de 90 dias e não ter deixado de comparecer a convocações do Ministério da Cidadania. “Queremos construir uma solução para que as pessoas saiam do endividamento, comecem a abrir o próprio negócio e poupem para o futuro”, completou Daniella.